O filho do jardineiro, uma fraude e a vacina contra a covid-19

Questionar a eficácia das vacinas em 2020 é pura e simplesmente cuspir na história e na ciência. A vacinação foi (e ainda é) um dos factores que mais contribuíram para o aumento da esperança média de vida das populações.

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Daniel Rocha

Mesmo que todos os retratos o mostrem sério, com plastrão e sobrecasaca, não acredito que Edward Jenner não tenha deixado escapar um grito de júbilo ou executado uns passos de sapateado quando fez a descoberta que acabou por mudar o mundo. Numa época em que a varíola desfigurava e matava milhares de pessoas, o espírito brilhante deste cientista percebeu que quem trabalhava com lacticínios e contraía a varíola bovina (com efeitos muito ligeiros em humanos) ficava imune à varíola na sua forma mais grave. Estando no século XVIII e não existindo o sentido de ética dos nossos dias, Jenner avançou com uma experiência muito pouco ortodoxa: aplicou uns quantos cortes na pele do filho do seu jardineiro, um menino de oito anos, e esfregou nesses cortes o exsudado de uma ferida provocada por varíola bovina. O menino ficou levemente doente e, quando recuperou, Jenner fez a mesma coisa mas, desta vez, utilizou o exsudado da ferida de um doente com varíola na sua forma humana. O resultado? O menino não contraiu a doença e a humanidade deu o primeiro passo na caminhada que permitiria salvar incontáveis vidas. Em 1980, dois séculos depois da descoberta de Jenner, a Organização Mundial da Saúde declarava oficialmente a varíola erradicada.

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