Proud Boys e outros grupos extremistas: a compreensão da perspectiva psicossocial
A identidade destas comunidades sobrepõe-se à identidade individual ou às características idiossincráticas de cada um, para tomar o lugar central na própria definição de cada um dos seus membros, fortalecendo ainda mais a ideologia e o comprometimento com o grupo.
É evidente para o espectador interessado que a expressão da extrema-direita está a aumentar um pouco por todo o mundo, mas talvez com maior incidência nos EUA. Desde que Donald Trump no primeiro debate presidencial declarou “Proud Boys: stand back, stand by”, que meio mundo quis saber quem é este grupo.
Mas pouco importa para o debate sobre as suas consequências se é um grupo de extrema-direita ou da direita radical. Importa sim reconhecer que são uma organização que semeia o ódio e que tem capacidade para radicalizar e recrutar novos membros. Tal como os demais grupos extremistas.
Perante um fenómeno em clara expansão, num mundo cada vez mais polarizado, mais do que conhecer a história e origem dos grupos violentos ideologicamente motivados, é preciso compreender os processos psicossociais que regem a radicalização e que mantêm estas organizações em funcionamento.
Os apoiantes de ideologias extremistas criam verdadeiras comunidades que partilham uma identidade colectiva de pessoas com a mesma ideologia, valores e crenças, resultando na busca de objectivos comuns. De uma perspectiva psicossocial, os indivíduos adoptam os valores e os comportamentos do grupo e, por conseguinte, também a ideologia, que passa a ser perfilhada por todos. Desta forma, a identidade destas comunidades sobrepõe-se à identidade individual ou às características idiossincráticas de cada um, para tomar o lugar central na própria definição de cada um dos seus membros, fortalecendo ainda mais a ideologia e o comprometimento com o grupo.
Este processo de identidade social, que a psicologia já explicou há muito, ajuda a compreender como estas organizações se mantêm coesas e como a violência pode ocorrer. Os grupos extremistas, ao fornecerem um quadro de leitura do mundo que é violento, maniqueísta e ameaçador para os objectivos do grupo, guiam os seus membros para a justificação do uso da acção violenta em nome da defesa da causa colectiva. E, por serem grupos organizados e com normas e crenças muito coesas, constituem o palco ideal para fortalecer a radicalização dos seus membros e catalisar o recrutamento de novos apoiantes.
Não é novidade que os grupos extremistas – de qualquer espectro – se encontram largamente presentes nos meios online e que a sua narrativa – a de normalização e legitimação da violência – já se tornou comum no nosso quotidiano. Por isso, agora foquemo-nos nas questões que importam: quando, como e onde a radicalização de novos membros ocorre. Ou seja, conhecer e compreender as circunstâncias e os meios que originam a busca pelos primeiros contactos com a ideologia extremista pode ser fulcral para travar esse processo em expansão.
Estudar a evolução destes grupos e intervir para a sua eliminação é importante e esses esforços devem continuar, no entanto, perceber o que leva pessoas com vidas aparentemente normais a procurar a via do extremismo parece ser a chave para se frear o crescimento do extremismo, possibilitando a intervenção precoce em indivíduos em situação de risco e a supressão de cadeias de ódio, conflito e discriminação.