Covid-19: 42% dos portugueses beberam menos durante o confinamento
Estudo mostra que falta de companhia e ausência de contextos festivos ajudaram 42% dos inquiridos a beber menos. Entre os 21% que aumentaram a ingestão de bebidas alcoólicas, estão sobretudo os homens com mais qualificações académicas que ficaram a trabalhar em casa e que já bebiam numa base semanal ou quase diária antes da pandemia.
Durante o confinamento, 21% dos portugueses declararam ter bebido mais álcool, segundo um inquérito realizado online pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) que somou 950 respostas de pessoas com 18 e mais anos, entre os meses de Abril e Maio. Entre os que passaram a beber mais estão maioritariamente homens, com idades entre os 25 e os 44 anos, com maiores qualificações académicas e que ficaram a trabalhar exclusivamente em casa.
O acréscimo de tempo livre de obrigações e responsabilidades surgiu entre os principais motivos para a ingestão acrescida de álcool (49%), no período compreendido entre 13 de Março e 31 de Maio, a par da necessidade de algo para ajudar “a relaxar e a acalmar (37%). Muitos (22%) viram no álcool um paliativo para um “contexto difícil”, ainda segundo este inquérito destinado a avaliar o impacto da pandemia nos comportamentos aditivos dos portugueses e que, além do álcool, incluiu medicamentos psicoactivos, Internet e videojogos, além de cannabis. Nestes casos, os resultados só serão divulgados mais tarde.
Quanto ao consumo de bebidas alcoólicas, nem todos encontraram na garrafa um consolo. No mesmo inquérito, 42% dos inquiridos declararam que passaram a beber menos e 37% que continuaram a beber o mesmo. Entre os primeiros, 13% afirmaram mesmo ter-se abstido do consumo de bebidas alcoólicas. São maioritariamente estudantes, entre os 18 e os 24 anos, que se dizem “mais preocupados com a saúde” e que, de resto, já tinham um menor consumo prévio. A falta da companhia das pessoas com quem se costumava beber e de contextos festivos foram outros dos motivos apresentados para a menor ingestão alcoólica.
Entre os inquiridos, 53% estavam a trabalhar exclusivamente em casa, 27% continuaram a trabalhar fora de casa e 20% eram estudantes ou estavam desempregados ou em layoff. A grande maioria (96%) asseverou nunca ter tido problemas ligados ao álcool. Mas quase todos acusaram o impacto emocional e financeiro da pandemia: 69% disseram-se preocupados com a possibilidade de contrair a doença, 68% com o impacto nas finanças do agregado familiar e 41% acusaram elevados níveis de stress, além dos 7% que reportaram um ambiente de conflito no agregado familiar.
Entre os 21% que declararam ter passado a beber mais, 78% explicaram que começaram a beber mais vezes, 22% que passaram a beber maiores quantidades por ocasião e 7% que optaram por bebidas com maior teor alcoólico. Fosse como fosse, este aumento coincidiu também com o grupo dos que acumulavam maior stress e preocupações financeiras e que já bebiam numa base semanal ou quase diária antes da pandemia. Alguns, de resto, já tinham tido ou tinham ainda problemas ligados ao consumo de álcool. Aliás, 2% dos inquiridos disseram terem recomeçado a beber depois de mais de um ano de abstinência.
“O aumento é atribuído sobretudo ao maior tempo livre e ao consumo de álcool ser facilitador de estados de humor de relaxamento ou de animação, o que é coerente com as associações identificadas aos níveis de stress ou preocupação com o impacto financeiro”, sublinha o SICAD, para concluir que “a pandemia da covid-19 acabou por ter consequências pouco nefastas” no que ao álcool diz respeito, apesar de alguns agravamentos dos consumos, nomeadamente entre os que declararam ter, ou já ter tido, problemas relacionados com o álcool.