O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, afirma que a sua atitude em relação a Zwarte Piet (“Pedro Preto”) — uma figura das celebrações de uma tradição dos Países Baixos, que tem sido criticada por ser uma caricatura racista — passou por “grandes mudanças” nos últimos anos.
Num debate no Parlamento sobre protestos contra o racismo levados a cabo no seu país, motivados pela solidariedade para com os manifestantes norte-americanos que estão nas ruas há mais de uma semana, depois da morte de George Floyd às mãos das autoridades de Mineápolis, Rutte disse na noite de quinta-feira que a sua opinião mudou desde 2013, quando disse: “O Zwarte Piet é apenas preto e não posso fazer muito a esse respeito.” E, então, deu por encerrada a discussão.
Na tradição holandesa, São Nicolau leva guloseimas às crianças, acompanhado de numerosos Zwarte Piet, que normalmente são encarnados por homens brancos que pintam a cara de preto e os lábios de vermelho.
Rutte lembrou que, desde 2013, conheceu muitas pessoas, incluindo crianças, que lhe disseram que se sentiam discriminadas porque Piet é negro. “E eu pensei que essa é a última coisa que queremos, num feriado que é pensado para as crianças”, declarou. “Espero que daqui a alguns anos não haja mais Zwarte Piet”, acrescentou no Parlamento.
Enquanto críticos, incluindo especialistas em cultura das Nações Unidas, denunciam que a figura de Zwarte Piet é ofensiva, a maioria dos holandeses argumentam que Piet é uma personagem mágica, da tradição e que não representa nenhuma raça.
Rutte observou ainda que a tradição já está a mudar e que em alguns locais a figura é representada apenas com umas pinceladas de negro nas bochechas, representando a fuligem das chaminés que Piet supostamente desce para entregar os presentes. Noutros lugares, os Piet são coloridos e foi-lhes retirado a palavra Zwarte (preto) do nome.
Esta semana, manifestantes anti-racismo saíram à rua em homenagem a George Floyd em Amesterdão e Roterdão, mas há outros agendados. Rutte reconheceu numa entrevista, na quarta-feira, que a discriminação é um “problema sistemático” nos Países Baixos. “Aqui, as pessoas também são julgadas pela sua herança”, disse.