Académicos propõem criação de “zonas verdes” para regressar à normalidade
Uma zona poderá ser considerada “zona verde”, se “não forem detectadas novas infecções durante vários dias consecutivos”, defende uma proposta de três académicos europeus. Caso uma área considerada segura volte a ter novos casos, perde o rótulo, voltando a ser considerada uma “zona vermelha”.
Como será o fim da quarentena? Dois matemáticos e um economista vêm propor uma estratégia para tirar as pessoas de casa, limitando ao mesmo tempo o risco de uma nova vaga de covid-19. A proposta dos três académicos europeus, divulgada no site The Conversation por dois dos autores, baseia-se em dois elementos fundamentais: “a identificação de zonas verdes” onde a transmissão do novo coronavírus está controlada e a circulação de pessoas é segura e, no futuro, na união destas zonas.
A análise, impulsionado pelo think tank EsadeEcPol, ligado à Universidade catalã Ramon Llull, lembra que o actual confinamento tem como objectivo separar as pessoas para impedir a transmissão do vírus, mas defende que esta separação está “longe de estar completa”. O grupo de académicos dá como exemplo França, onde as pessoas não devem estar a mais de 1 quilómetro da sua residência, mas onde ainda assim conseguem estar ligadas em rede e, consequentemente, transmitir o vírus, especialmente nas grandes metrópoles, como Paris.
Propõem assim que seja possível a circulação dentro de “zonas verdes” desconectadas, como bairros, cidades ou, possivelmente, países. Segundo os autores, estas medidas foram já aplicadas em várias zonas da China, nomeadamente em Wuhan.
As áreas de circulação com baixo risco são as chamadas “zonas verdes” e os autores defendem que estas podem ajudar no regresso à normalidade. Numa primeira fase abririam áreas que funcionam como “mercados de trabalho locais”, isto é, onde existe grande movimentação interna, mas pouca circulação externa.
O estudo sugere que cada nação seja dividida em áreas geográficas (células) entre os 5000 e os 100.000 habitantes. Cada país deve ter em conta “zonas que partilhem laços económicos” de forma a limitar os prejuízos económicos, ou seja, o abrandamento das medidas de isolamento seria feito por zonas, o que permitiria reduzir as ligações entre diferentes áreas e impedir o vírus de se disseminar.
Zona verde? Pode sair. Vermelho? Fique em casa
A divisão por zonas segue um código de cores, vermelho ou verde, consoante a situação pandémica. A cor vermelha indicaria uma situação próxima da que vivemos, com restrições sanitárias e comerciais. O verde indica as zonas onde existe um regresso gradual à normalidade.
Uma zona poderá ser considerada “zona verde”, se “não forem detectadas novas infecções durante vários dias consecutivos”. Dentro dessa área haveria uma sensação de normalidade, mas “as viagens para fora seriam restringidas”. Se duas áreas verdes adjacentes tivessem o vírus controlado, as duas seriam agrupadas, formando assim uma zona segura maior, e assim sucessivamente.
Contudo, a proposta ressalva que a definição de “zona verde” dependeria de cada governo e da respectiva consulta das autoridades de Saúde locais. Em alguns casos poderiam ser “zonas amarelas”, onde algumas medidas fossem levantadas, mas não a normalidade como a conhecemos.
Caso uma área considerada segura voltasse a ter novos casos, perderia o rótulo, voltando a ser considerada uma “zona vermelha”.
A oscilação entre medidas restritivas e o levantamento das mesmas é uma hipótese posta também pela ministra da Saúde para o caso português. Marta Temido admitiu que as orientações seguidas “tanto servem para o aliviar de medidas, como para o seu reposicionamento”, ou seja, tudo dependerá da situação epidemiológica do país.
Os autores alertam que, para pôr em prática a sua sugestão, é necessário reflectir “sobre os laços sociais e económicos” de cada área. “As regras aplicáveis a cada zona terão de ser claramente definidas” explicam. Acrescentam ainda que é importante ter o apoio do público para funcionar.