Aos 99 anos, veterano britânico caminha para apoiar o NHS. E já conseguiu perto de 15 milhões de libras
Começou por ser uma forma de manter os exercícios de reabilitação e, ao mesmo tempo, angariar um pouco de dinheiro para o Serviço Nacional de Saúde britânico.
O veterano de guerra britânico Tom Moore completa 100 anos no próximo dia 30 e, para os assinalar, decidiu dar 100 voltas às traseiras de sua casa até essa data com o objectivo de angariar mil libras (1145 euros) para o Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS, na sigla original). Mas, ao fim de uma semana, o capitão já conseguiu uns incríveis quase 15 milhões de libras (cerca de 17 milhões de euros). E há até uma petição para que seja ordenado cavaleiro.
Todos os dias, desde 8 de Abril, o capitão Tom Moore coloca as suas medalhas de mérito ao peito para, apoiado no seu andarilho, palmilhar o jardim nas traseiras de sua casa, sendo cada volta de 25 metros. A ideia do ex-militar, que cumpriu missões durante a Segunda Guerra na Índia, Birmânia e Indonésia, nasceu de uma sugestão da filha.
Ao ver o pai confinado em casa, durante o surto de covid-19, mas a precisar de manter exercícios de reabilitação na sequência de uma recente cirurgia à anca, Hannah Ingram-Moore desafiou-o a manter o exercício e, ao mesmo, tempo aproveitar esses momentos numa acção de angariação de fundos. À CNN, a filha de Moore descreveu o pai como um “árduo trabalhador”, acrescentando que os donativos recolhidos o tinham deixado “abismado”.
Assim, Moore pôs como meta 100 voltas ao quintal de 25 metros com a intenção de recolher mil libras (1145 euros) para o NHS. Data para terminar o objectivo: 30 de Abril, o dia em que completa um centenário de vida. Porém, a adesão foi tal e tão rápida que depressa o objectivo cresceu para 500 mil libras (572.787 euros).
Actualmente, a página de angariação regista doações no valor de 14.877.365 libras — e, desde a primeira linha deste texto até à última, não parou de crescer.
Entretanto, também o ânimo do capitão foi superior ao que o próprio antecipara, tendo concluído o objectivo das 100 voltas ao fim da manhã desta quinta-feira, na companhia da guarda de honra do 1.º Batalhão do Regimento de Yorkshire. Numa declaração do Ministério da Defesa do Reino Unido, citada pela CNN, o major Ian Atkins, oficial que comandou as tropas da guarda de honra, afirmou que “os soldados (…) não podiam estar mais orgulhosos de contar [com Moore] como um dos seus”. “Agradecemos-lhe do fundo do coração o seu serviço ao país, e agora os seus feitos em nome do NHS.” Isto em mais um dia difícil para os britânicos, que voltaram a ver o número de óbitos crescer em mais 861 — o maior aumento diário dos últimos cinco dias.
Também o secretário de Estado da Saúde britânico, Matt Hancock, fez uma referência a Tom Moore durante a conferência de imprensa de quarta-feira, em que foram actualizados os dados sobre o surto no Reino Unido. “Capitão Tom, o senhor é uma inspiração para todos, e todos lhe agradecemos”, disse, citado pelo The Guardian.
Mas o agradecimento já vai mais longe: decorre, desde quarta-feira, uma petição em que se defende que o “espantoso herói (…) merece ser galardoado com o título de cavaleiro”. A iniciativa de Sonia Wilson, uma parteira do NHS, já conta com mais de 300 mil assinaturas. “Como parteira do NHS, sei o quanto a sua angariação de fundos e apoio significa no terreno. E o quanto significa para o pessoal durante esta terrível pandemia. Ele merece ser ordenado cavaleiro.”
“Em momento algum, quando começámos com este exercício, esperávamos conseguir alguma coisa perto deste tipo de valor”, disse Moore à BBC. “Só mostra que as pessoas têm tanta consideração pelos assuntos do nosso Serviço Nacional de Saúde e é realmente espantoso que tenham doado tanto dinheiro.”