O seu luto em tempo de pandemia

Se vive uma perda, queremos que saiba que os profissionais de saúde têm consciência que para si este é um momento ainda mais difícil e que estamos ao seu lado.

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LUSA/MIGUEL A. LOPES

A pandemia da covid-19 está a criar um enorme impacto negativo na nossa percepção de segurança e de estilo de vida. O confinamento forçado, as más notícias sobre o aumento de casos e sobretudo o conviver diariamente com a mortalidade a nível local, nacional e mundial leva-nos para um ambiente de grande incerteza e ansiedade.

Se vive uma perda, queremos que saiba que os profissionais de saúde têm consciência que para si este é um momento ainda mais difícil e que estamos ao seu lado.

Estamos tristes ainda por saber que se o seu ente querido morreu no hospital e, por isso, não pôde estar com ele nos seus últimos dias. Sabemos que sentiu, porventura, que o abandonou e esse é um sentimento muito doloroso. E se depois do falecimento, o corpo foi directamente para o crematório ou sepultura e não pôde escolher a roupa que tinha pensado, ver o corpo, fazer o velório e funeral que desejava, vai sentir que não fez a homenagem que queria e que o seu ente querido merecia.

Além destas dificuldades, sabemos que está a perder aquilo que pensamos ser o mais importante num momento como este, tão difícil, que é a oportunidade de ser confortado e ter a compaixão dos familiares e amigos.

Aqui ficam com algumas recomendações que gostaríamos que lhe fossem úteis:

  1. Feche os olhos por breves momentos e dê-se conta do mundo à sua volta. Do momento difícil para todos, da necessidade de estarmos em casa e da importância destas medidas para a saúde de todos. Não é por culpa de ninguém que estamos assim. É um momento especial que afecta milhões de pessoas em todo o mundo. Sinta que muitas pessoas enlutadas estão a sentir o mesmo. Sinta-se em comunidade e em ligação com todos, que não está sozinho a viver este momento tão duro. Por exemplo, caso tenha vivido o sentimento de abandono do seu ente querido no hospital, compreenda que tal se deve à situação mundial e não à sua acção.
  2. Sinta que perder alguém é diferente de não realizar rituais fúnebres. Mesmo que esses rituais sejam relevantes para si, o importante é concentrar-se na perda o seu ente querido.
  3. Compreenda que se não realizou agora esses rituais poderá fazê-los mais tarde, altura em que poderá agendar missas, encontros de família e visitas ao cemitério ou ao local onde foram depositadas as cinzas.
  4. Enquanto está em casa, isolado pode focar a sua atenção na pessoa que partiu. Permita-se partilhar emoções, sentimentos e recordações com as pessoas que convivem consigo.
  5. Pode, se se sentir seguro, fazer pequenas reuniões com as pessoas com quem convive, para conversar sobre a que partiu e escutá-las. Permita que as crianças e adolescentes participem porque têm esse direito, além de que, muitas vezes, têm facilidade em falar sobre estes temas.
  6. Se preferir fazer estas homenagens em privado, opte pela escrita, expressando os seus sentimentos, ao mesmo tempo que ouve uma música que a pessoa tanto gostava ou que a faz ligar-se a essa pessoa tão querida.
  7. Permita e aceite as suas emoções associadas ao luto. Chorar e estar revoltado são emoções tão associadas à perda que, quando expressadas, sentimo-nos mais aliviados e compreendidos. Sentir que quer estar isolado é também um comportamento que deve aceitar em si e nos outros. Permita que as emoções dos outros se expressem também sem as conter ou limitar.
  8. Permita sentir-se mais frágil neste momento. Aceite a ajuda de outras pessoas. Abra o seu coração ao outro e à ajuda que lhe bate à porta. Poderá querer procurar um profissional que, nestes momentos, pode ser muito importante para o ajudar a expressar o que sente e a gerir o futuro do seu luto.
  9. Não esqueça que é um ser integral que, apesar de neste momento preferir estar focado na sua perda tão dolorosa, deve olhar para si como alguém que também deve cuidar da sua saúde física e mental e dos seus familiares. Mantenha as suas rotinas, hábitos saudáveis (exercício e alimentação) e, em caso de sintomatologia incapacitante, contacte o seu médico de família.
  10. Tome em atenção as crianças e adolescentes, que necessitam também de partilhar a dor e as emoções. O mais importante é criar um ambiente de segurança para que se sintam livres e aceites na forma como expressam as suas emoções, tiram dúvidas e recebem orientações compreensivas.
  11. Sinta que os psicólogos estão consigo e com a sua dor. Não hesite em contactar-nos para falarmos consigo. Temos consciência das dificuldades que está a sentir.

Um abraço fraterno,

Rui Devesa Ramos

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