Plantéis das cinco grandes Ligas europeias desvalorizam 9,3 mil milhões de euros

Premier League tem plano para disputar à porta fechada nos meses de Junho e Julho os 92 jogos que faltam realizar do campeonato desta temporada numa espécie de mega-evento televisivo

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Plantel ao serviço de Pep Guardiola poderá desvalorizar ais de 400 milhões de euros Reuters/Phil Noble

Há nove meses, o Atlético de Madrid contratou ao Benfica a jovem promessa João Félix, então com 19 anos, por 126 milhões de euros. Foi uma das mais caras transferências de sempre no futebol, mas a pandemia do coronavírus e os seus efeitos financeiros ainda imprevisíveis tornaram verbas como estas impraticáveis nos tempos mais próximos. A tendência é para uma significativa desvalorização na cotação das estrelas das principais equipas de futebol europeu, como revela esta segunda-feira um estudo do Centro Internacional de Estudos Desportivos (CIES), Observatório do Futebol Europeu.

Tal como a generalidade dos sectores económicos, a indústria do futebol está a ser gravemente afectada pelo impacto da pandemia global, que levou à suspensão das maiores competições mundiais. De acordo com a edição 289 do Boletim Semanal do CIES, o valor dos plantéis das equipas que disputam as cinco principais Ligas europeias (Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França) irá desvalorizar, em média 28%, caso não sejam disputados mais jogos até ao final do mês de Junho. No total, os clubes irão perder 9,3 mil milhões de euros.

Percentualmente, o Marselha treinado pelo português André Villas-Boas é aquele que apresenta pior cenário. A equipa francesa terá uma queda de 38% no valor dos seus activos. Algo como 97 milhões de euros.

Mas em termos absolutos, será o Manchester City a liderar este ranking indesejável. O conjunto orientado pelo catalão Pep Guardiola terá perdas de 412 milhões de euros. Menos 30,3% do valor atribuído ao plantel no início de Março deste ano: 1,361 mil milhões de euros.

Na segunda posição, surge o Barcelona. De acordo com os dados do CIES, os catalães poderão desvalorizar 366 milhões de euros 31,3% (de 1,170 mil milhões para 804 milhões de euros). Panorama idêntico ameaça o rival Real Madrid, com uma queda de 31,8% (1,1 mil milhões para 750 milhões).

Mesmo assim, o plantel ao serviço de Zinedine Zidane fica um lugar abaixo do pódio, já que a terceira posição, em termos absolutos, é ocupada pelo Liverpool.

Se há apenas duas semanas, os virtuais campeões ingleses eram avaliados pelo próprio CIES como a equipa mais valiosa do mercado de transferências, alcançando uns estratosféricos 1,405 mil milhões de euros, perdem agora 25,1% desse valor, descendo para os 1,052 mil milhões. Mesmo assim, é o único plantel mundial avaliado acima dos mil milhões de euros.

Ainda em termos absolutos, o Bayern Munique é quem mais perde na Alemanha, com uma desvalorização estimada em 267 milhões de euros (809-542 milhões), menos 33%. Pior está o PSG, em França, que desce 302 milhões (31,4%: 961-659 milhões).

Em Itália, o ranking absoluto é liderado pelo Inter de Milão, que desce 276 milhões de euros (35,7%: 773-497 milhões). O clube da Lombardia, a região italiana mais afectada pela pandemia do coronavírus, é aquele que apresenta a segunda maior desvalorização percentual, logo depois do Marselha.

Premier League quer recomeçar

Com uma desvalorização dos plantéis do conjunto das 20 equipas que disputam a Liga inglesa de perto de três mil milhões de euros, os responsáveis pela competição estão a desenvolver um plano para minimizar os danos e encerrar a actual temporada.

A ideia, revelada esta segunda-feira pelo jornal Independent, passa pelas 92 partidas em falta serem disputadas em estádios vazios, num mega-evento televisivo. Num formato tipo “Campeonato do Mundo”, os jogos seriam distribuídos entre a capital Londres e as Midlands, no centro da Inglaterra, entre os meses de Junho e Julho.

Face às receitas milionárias já antecipadas pelos direitos de transmissão televisiva e os crescentes encargos financeiros dos clubes, cresce a pressão para encerrar a época em curso. De acordo com plano – que, segundo o Independent, estará a acolher alguma simpatia do Governo -, as equipas ficariam confinadas em hotéis, com as respectivas famílias, como se se tratasse de um Europeu ou Mundial.

A ideia, por muito que agrade aos clubes e aos adeptos, apresenta problemas logísticos complicados. Os funcionários e entidades oficiais envolvidos nesta operação, assim como as equipas de televisão teriam de ficar igualmente isolados, em regime de quarentena.

Por outro lado, existem reservas de ordem moral por um evento como este envolver necessariamente muito pessoal médico, podendo implicar, em caso de lesões mais graves, visitas aos já super-lotados hospitais britânicos. “Para onde vai um jogador com uma ruptura de ligamentos ou uma perna partida?”, pergunta uma fonte contactada pelo Independent.

“Os hospitais terão preocupações muito maiores. A Premier League precisaria praticamente de um hospital privado bloqueado [aos restantes pacientes]”, concluiu a mesma fonte.

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