Em dias de isolamento, faça jardinagem na varanda ou no terraço
Desligue o ecrã e vá com os miúdos para fora. Por mais pequena que seja a varanda, os decoradores propõem sugestões para sujar as mãos e fazer algo em família.
Se está em isolamento por causa da pandemia da codiv-19 e com miúdos por casa, sem saber que actividades fazerem juntos, por que não deixá-los sujar as mãos de terra e cultivarem ervas aromáticas que, mais tarde, podem ser usadas nos temperos na cozinha? E criarem, na varanda ou no terraço, vasos com material reciclado? Estas actividades entre pais e filhos podem trazer vantagens para todos, garantem psicólogos e arquitectos com os quais o PÚBLICO falou.
A jardinagem em família pode ser uma actividade “maravilhosa”, porque há o contacto com a natureza, o mexer e o cheirar o aroma da terra, defende a psicóloga Cristina Valente. “É uma actividade muito interessante, porque vai trabalhar o sistema cinestésico — táctil, olfactivo e gustativo)”, defende a autora dos livros O Que se Passa na Cabeça do Meu Filho? e Coaching Para Pais.
Também a psicóloga Catarina Lobo, especialista em Psicologia da Educação, defende que “será muito tentador optar pelo recurso às tecnologias e aos ecrãs para ocupar os miúdos e esta opção, não sendo de excluir, deve ser feita com equilíbrio, de modo a não permitir que as crianças passem longos períodos do dia expostos a estes estímulos”. É importante, continua Catarina Lobo, “ter um pouco de equilíbrio nas rotinas”, desenvolvendo a criatividade e imaginação como competências, o que pode perfeitamente passar por actividades como a jardinagem e as artes plásticas.
Pais e filhos vão gostar de plantar uma pequena horta com manjericão e hortelã na varanda, no terraço do apartamento ou no alpendre da moradia. Mas, no “actual cenário de pandemia em que vivemos, algumas das tarefas/actividades que consideramos serem terapêuticas ou importantes para o desenvolvimento dos miúdos têm restrições”, avisa Catarina Lobo. “Por isso, no que diz respeito a sujarem as mãos, em termos teóricos e em circunstâncias normais, é desejável”, sublinha. Já nas circunstâncias actuais, “provavelmente, havendo os cuidados de higienização posteriores que são obrigatórios, poderá não haver problema”, acautela psicóloga.
Mas, atenção, adverte, Cristina Valente, não é porque os pais querem fazer actividades que os filhos estão de acordo. O objectivo não é discutir mas fazer algo em conjunto, por isso, as crianças não devem ser forçadas, mas convidadas, de “uma forma descontraída e com leveza”, aconselha. O melhor é “descomplicar a vida”, aconselha, referindo que agora que “somos obrigados a parar, a estar em casa, também há mais tempo para pais e filhos”. Por isso, aproveitem da melhor forma.
Plantar ervas aromáticas e flores
Chegados a acordo, o que fazer? A arquitecta Elsa Matias, do atelier Elsa&Fernando Hipólito, em Cascais, começa por aconselhar a transformação da sua varanda, por mais exígua que seja, numa zona de lazer cheia de verde, como uma extensão da sala de estar.
Na impossibilidade de sair de casa, as plantas e flores podem ser encomendadas online. E as escolhas podem recair sobre plantas que exigem pouca manutenção como as estrelícias ou os cactos, exemplifica Elsa Matias, acrescentando que há outras flores, também de fácil manutenção, como as petúnias ou pelargónios, que podem ser postas em floreiras suspensas ou num vaso de bambu num dos cantos da varanda.
A arquitecta Cristina Santos e Silva, do atelier Artica, em Lisboa, “uma apaixonada por hortas e flores, principalmente rosas”, transformaria a varanda numa horta rodeada por um roseiral, sugere, aconselhando a não misturar muitas variedades de flores se o espaço for pequeno.
Se gosta de usar ervas aromáticas, cultive manjericão, orégãos, tomilho, coentros, salsa, hortelã-pimenta, funcho ou erva-príncipe, começa por aconselhar a arquitecta paisagista Paula Saavedra. Mais tarde, os miúdos vão achar piada colher as ervas para as usar na cozinha. Também pode cultivar morangos, mirtilos e alfazema e pedir-lhes, no caso desta última e depois de seca, para a colocarem em saquinhos para aromatizar as gavetas.
Se não quiser ficar à espera que a encomenda feita online chegue a casa, Cristina Santos e Silva sugere ir até à despensa e escolher quatro cebolas pequenas e já com uma raízes a despontar. “Cozinhamos a parte superior da cebola, em qualquer refogado, mas usamos a parte inferior na origem da nossa horta.” Para isso, é necessário mergulhar “esses rabinhos das cebolas dentro de copos com água e mudar a água de dois em dois dias”. Duas semanas depois, sublinha, “teremos umas raízes cada vez mais fortes e brancas, e algumas folhas verdes”. Já será, então, altura de preparar a terra com o fertilizante caseiro e cultivá-las. O mesmo processo pode ser usado com alhos.
Para fazer o fertilizante caseiro, sugere, podem “aproveitar todos os desperdícios naturais de origem vegetal, como cascas de legumes, de frutas e de ovos trituradas, além de borras de café, folhas de árvores”.
Reciclar, construir e pintar vasos
Onde cultivar as plantas ou as flores? Pais e filhos podem construir vasos e canteiros, reutilizando e dando uma nova vida a garrafões de água, caixas de ovos, embalagens de leite e frascos de vidro que têm em casa para reciclar, sugere Paula Saavedra, aconselhando ainda a reciclar jornais, revistas, madeiras, trapos e roupa velha. Por exemplo, com o papel, é possível fazer pasta (com cola e água) e construir vasos e respectivos pratos.
Para evitar ir às compras, aconselha, as famílias podem usar utensílios de cozinha velhos para mexer na terra. A arquitecta paisagista também sugere que façam a experiência da semente em álcool que muitas crianças costumam fazer nas escolas. E depois passar para um vaso. “Apesar de o álcool estar escasso, tentem usar restos de chá”, sugere.