Afinal os radares não servem apenas para controlar o tráfego. A Universidade de Aveiro prova agora que os radares também podem servir para controlar as emoções. O radar das emoções, como é apelidado, permite identificar o estado emocional de uma pessoa, com recurso aos seus sinais vitais detectados à distância.
Tudo começou em 2017 com o protótipo de bio-radar para processamento do sinal respiratório em tempo real, desenvolvido por Carolina Gouveia no mestrado integrado em Engenharia Electrónica e das Telecomunicações. O que torna diferenciador este radar é o facto de monitorizar o ritmo respiratório sem qualquer contacto físico.
Medo e alegria são as emoções que o radar detecta através de uma onda de rádio que é reflectida pelo tórax da pessoa monotonizada. Com o eco recebido, e com recurso a algoritmos de classificação, são detectadas as emoções.
Além do ritmo respiratório, “este radar também mede o movimento da pessoa”, explica a investigadora Carolina Gouveia ao PÚBLICO. O teste, para já feito em apenas nove pessoas, é realizado enquanto o indivíduo assiste a vídeos que possam estimular as suas emoções.
De forma a tornar os resultados mais precisos, a equipa de investigação espera, num futuro próximo, conseguir detectar também o sinal cardíaco. Para já tem sido difícil separar a respiração do batimento cardíaco, uma vez que “são muito parecidos”, reconhece a investigadora. Através do sinal cardíaco, explica Carolina Gouveia, será possível detectar outras emoções, como o nojo ou a tristeza.
O objectivo do radar das emoções é ir além do contexto de investigação para passar à prática. Em contexto clínico, explica a investigadora Filipa Barros em nota de imprensa, o radar pode ser “um meio complementar de avaliação, diagnóstico e monitorização de algumas perturbações que têm associadas alterações fisiológicas”, como por exemplo o Espectro do Autismo ou a hipersensibilidade ao toque.
Dado que o radar das emoções é utilizado sem o contacto directo com o indivíduo, pode tornar-se útil no campo da saúde mental, facilitando o diagnóstico. Os investigadores sugerem a sua utilização, neste contexto, em crianças ou populações clínicas com dificuldades de comunicação ou comportamentais.
O radar das emoções também pode ser utilizado no ramo automóvel, onde poderá evitar acidentes já que o mecanismo poderá detectar o cansaço ou a sonolência, acrescena Carolina Gouveia. A neutralidade de emoções (apatia) também pode ser detectada neste bio-radar.
Publicada na revista Biomedical Signal Processing and Control da Elsevier, a investigação foi feita por uma equipa multidisciplinar, não só da área da tecnologia das telecomunicações, como da educação, psicologia e serviços de saúde. Ana Tomé, Carolina Gouveia, Filipa Barros, Sandra Soares, José Vieira e Pedro Pinho são os cientistas que se encontram a desenvolver o radar das emoções.
Texto editado por Bárbara Wong