É a pior altura do ano para lidar com um vírus na China
É obrigatório usar uma máscara na maior migração anual do planeta que acontece no Ano Novo Lunar chinês e que desta vez inclui um perigoso coronavírus à solta.
Qualquer altura do ano é má para enfrentar a ameaça de um vírus mas, entre todos os dias do calendário, o surto de pneumonia da China não podia ter escolhido pior altura do que esta. Está a começar aquela que é considerada a maior migração anual no planeta Terra. São milhões de pessoas que viajam na China durante este período em que se assinala o Ano Novo Lunar. Mas, desta vez, este não é um novo ano como outro qualquer. Há um perigoso coronavírus à solta que está a ganhar força, a atravessar fronteiras e a somar vítimas a cada dia que passa.
O Ano Novo chinês começa no primeiro dia em que a Lua está na fase de lua nova. Ou seja, em 2020, o início do ano ocorre oficialmente a 25 de Janeiro, quando começa o Ano do Rato que só vai terminar a 11 de Fevereiro de 2021. Apesar da definição desta data, o início varia entre países da Ásia. Assim, por exemplo, na China e Taiwan, o feriado é celebrado este ano a 24 de Janeiro, enquanto em Hong Kong e na Malásia só é feriado nacional no dia seguinte. É fácil de perceber que, ao contrário do calendário ocidental, não há uma data fixa para o início do Ano Novo na China e que este é organizado de acordo com as fases da Lua e não pela viagem de 365 dias da Terra à volta do Sol.
Durante o feriado lunar, há milhões de pessoas que esgotam a lotação de comboios, autocarros e aviões para viagens para se reunirem com as suas famílias. Outros residentes na Ásia aproveitam o tempo livre para a marcação de curtos períodos de férias longe de casa. Segundo o Ministério dos Transportes chinês, o país deve registar um total de 3000 milhões de viagens internas durante os próximos 40 dias. Um artigo divulgado pela CNN adianta que, no ano passado, quase sete milhões de turistas chineses viajaram para fora do país na altura do Ano Novo Lunar.
O feriado – o mais importante no calendário chinês – acontece no pior momento possível para as autoridades de saúde do continente da Ásia (e não só), que estão a lidar com um surto de pneumonia causado por um novo coronavírus, que já infectou mais de 500 pessoas e causou 17 vítimas mortais.
Não é preciso muito conhecimento científico para associar esta incrível movimentação de pessoas a um maior risco de contágio de uma doença. O problema agrava-se quando os registos dos últimos dias revelam saltos assustadores nos números de infectados e vítimas mortais. O genoma do vírus já foi sequenciado e os cientistas concluíram que é um novo coronavírus, que pertence à família da síndrome respiratória aguda grave (SARS), que entre 2002 e 2003 matou cerca de 700 pessoas na China continental e em Hong Kong. Mas há vírus deste tipo com diferentes impactos nos humanos, desde os quase inofensivos que causam sintomas ligeiros aos perigosamente fatais, com todos os níveis moderados no meio desses extremos.
No capítulo dos sintomas, este novo vírus também traz alguns problemas para as autoridades de saúde que garantem que estão a vigiar todas as pessoas em viagem na época festiva que se comemora na China e noutros países da Ásia. É que os sintomas iniciais do coronavírus de Wuhan (cidade com cerca de dez milhões de pessoas onde terá começado o surto) são “apenas” febre e tosse, ou seja, os mesmos de uma gripe tão comum nesta altura do ano. Esta quarta-feira as autoridades chinesas anunciaram o encerramento temporário de todos os transportes públicos de Wuhan.
A isto junta-se mais um dado: há 60 rotas que partem do aeroporto de Wuhan para outros países, incluindo voos directos para Nova Iorque, São Francisco, Sydney, Paris e Londres, e centenas de voos internos para outras cidades chinesas. As medidas de controlo e prevenção estarão todas no terreno, com especial atenção para os aeroportos, estações de comboio e autocarros, mas alguns especialistas receiam que já seja demasiado tarde.
Assim, as pessoas estão a ser aconselhadas a usar máscaras e a não viajar, rompendo excepcionalmente com a tradição das reuniões familiares nos festejos de ano novo. Talvez na sequência do incentivo para ficar em casa, a agência Reuters relata que muitos chineses optaram por um estranho modo de lidar com a nova ameaça à saúde: um jogo online de simulação de uma praga e um filme sul-coreano de 2013 sobre uma calamidade chamado Flu (A Gripe).