Novo tipo de pneumonia na China mata pelo menos seis pessoas. Primeiro caso em Taiwan
Pelo menos 15 membros das equipas médicas foram também infectados. Foi identificado o primeiro caso em Taiwan. Conheça alguns cuidados a ter.
O número de vítimas mortais da nova forma de pneumonia identificada em Wuhan, no centro da China, voltou a aumentar. São agora seis as vítimas mortais depois de, nesta terça-feira, ter sido confirmada a morte de mais três pessoas, entre elas, um homem de 89 anos, residente naquela que se pensa ser a cidade de origem do surto — Wuhan.
De acordo com os números apresentados pela comissão nacional de saúde e citados pela BBC, mais de 300 pessoas estão infectadas com o novo vírus um pouco por toda a China. Mas os números dos cientistas apontam para um caminho diferente.
De acordo com um estudo da Universidade de Hong Kong, citado pelo South China Morning Post, que cruzou vários dados (como os das viagens já realizadas de Wuhan para outros pontos do território chinês), o vírus pode já ter chegado a 20 cidades só nos primeiros 17 dias do ano.
Além disso, as estimativas dos cientistas de Hong Kong vão ao encontro das já apresentadas pelos investigadores do Imperial College de Londres: mais de um milhar de pessoas deverão ter sido infectadas com o novo coronavírus.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) está a considerar uma declaração de emergência de saúde pública internacional – como aconteceu com a gripe suína e com o ébola –, mas a decisão só vai ser tomada nesta quarta-feira, depois de uma reunião de emergência para “perceber que recomendações devem ser dadas para gerir” o vírus.
Soube-se, nesta segunda-feira, que a doença é transmissível entre humanos, o que aumenta o potencial de transmissão. Noutro comunicado, a comissão de saúde de Wuhan, cidade onde se pensa que este surto possa ter começado, informou que 15 funcionários das equipas médicas que mais contacto tiveram com estes doentes estão infectados com o mesmo coronavírus (2019-nCoV). Um deles está em condição crítica, informa a BBC.
Foi confirmado hoje o primeiro caso desta infecção em Taiwan. Trata-se de uma mulher de 50 anos que regressou de Wuhan esta segunda-feira. O Centro de Controlo de Doenças de Taiwan relatou à agência Reuters que a mulher foi encaminhada directamente do aeroporto para o hospital com sinais de febre e tosse.
Ano Novo chinês preocupa autoridades sanitárias — e os mercados
Os mercados estremeceram. Nesta terça-feira, o índice FTSE-100, de Londres, abriu a cair 1%, tal como o índice MSCI da Ásia Pacífico. O mesmo aconteceu com na bolsa japonesa: o índice Nikkei caiu 0,8% nesta terça-feira. E é provável que o cenário de queda se mantenha. “Devido ao novo ano chinês, milhões de pessoas vão votar a casa um pouco por toda a China, tornando a situação muito difícil de controlar”, disse Margaret Yang, analista da correctora CMC Markets em Singapura, ao The Guardian. “A venda [de acções] está só a começar, vamos ver mais nos próximos dias”.
O yuan, a moeda chinesa, também começou a desvalorizar nesta terça-feira.
A nova doença está a espalhar-se por várias cidades chinesas e já chegou a, pelo menos, quatro países estrangeiros. O maior número de infectados foi identificado em Wuhan, mas já foram detectadas pessoas com o novo coronavírus em Pequim (cinco casos), em Cantão (14 casos) e Xangai (dois casos). Há relatos de casos na Tailândia, Japão e Coreia do Sul. Em todos os casos, as pessoas infectadas tinham regressado de Wuhan.
Alguns dos primeiros infectados, detectados no final de 2019, trabalhavam num mercado de peixe em Wuhan. Para além do peixe e marisco, vendia-se ali animais vivos – como pássaros, coelhos ou cobras. O mercado está fechado desde o início de Janeiro para desinfecção.
Para já, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças coloca a possibilidade de infecção no espaço da União Europeia como “moderado”. Em comunicado, o centro alerta para a possibilidade de infecção de viajantes que visitem Wuhan – um aviso especialmente relevante uma vez que as comemorações de ano novo na China se aproximam – e que tenham “contacto próximo com indivíduos sintomáticos”.
“Consequentemente, a probabilidade de importação de casos de 2019-nCoV para a União europeia é considerada moderada”, lê-se no comunicado. Actualmente três aeroportos da União Europeia têm ligação directa a Wuhan e outros têm ligações indirectas.
Na Austrália, um homem que chegou vindo de Wuhan foi colocado em isolamento e está a ser testado, depois de lhe terem sido identificados sintomas semelhantes ao do novo coronavírus — como dificuldades respiratórias ou febre. Como resposta, o Governo australiano disse que ia apertar as medidas de biossegurança nos voos vindos de Wuhan — há três voos semanais directos entre Sidney e aquela cidade chinesa.
Os efeitos dessa medida podem ser limitados: “Não se pode prevenir de forma absoluta a disseminação de uma doença neste país. O período de incubação deve rondar uma semana”, disse o responsável de saúde do Governo australiano, Brendan Murphy, citado pela Reuters. “Temos de identificar os passageiros com alto risco e ter a certeza que esses passageiros recebem cuidados médicos.
As autoridades de vários países, como Singapura, Hong Kong, Taiwan e Japão apertaram as medidas sanitárias aplicadas aos passageiros vindos de Wuhan. Na semana passada, os EUA já tinham anunciado medidas semelhantes nos aeroportos de São Francisco, Los Angeles e Nova Iorque.
A companhia aérea low-cost sul-coreana T’way Air cancelou o lançamento de uma nova rota entre Incheon (na Coreia do Sul), e Wuhan. “Era uma decisão inevitável devido à situação lá [em Wuhan]”, disse um porta-voz à Reuters.
O grande movimento de pessoas de e para a China durante o ano novo lunar (que se celebra a 25 de Janeiro) pode dificultar o trabalho de monitorização das autoridades, o que pode significar que muitos casos ficam por detectar. O perigo de contágio pode aumentar, alertam as autoridades.
Os principais responsáveis chineses já alertaram as autoridades locais: os novos casos desta doença não devem ser encobertos. Quem os tentar esconder será “pregado a um pilar de vergonha para o resto da eternidade”, afirmou o Chang An Jian, responsável para comissão central de política e assuntos legais, citado pelo South China Morning Post.
Para este alto responsável, é importante não esquecer a dolorosa lição da epidemia de SARS, que matou 800 pessoas em todo o mundo. O facto de o Governo chinês a ter escondido, num primeiro momento, tornou-a ainda mais mortífera.
“Só tornando a informação pública é que iremos conseguir reduzir o pânico público”, escreveu. “As pessoas não vivem no vácuo e [se os pormenores sobre a doença forem encobertos] iremos dar origem a rumores e retirar [à população] o seu direito a conhecer a verdade.”
O Presidente chinês, Xi Jinping, garantiu que se farão “todos os esforços” para controlar o surto e salvar vidas, numa altura em que milhões de chineses viajam por todo o país para celebrar o Ano Novo. “A vida e saúde das pessoas devem ser a grande prioridade e a disseminação do surto tem de ser controlado”, afirmou Xi Jinping em declarações à televisão estatal na segunda-feira.
O que se sabe sobre o vírus?
O vírus, apelidado pela OMS como 2019-nCoV, é uma forma de coronavírus que ainda não tinha sido observada em humanos. Os sintomas mais comuns incluem febre, tosse e dificuldades respiratórias. Em casos mais graves a infecção pode causar pneumonia, síndrome respiratória aguda grave, falha renal ou até a morte, de acordo com a OMS.
Os coronavírus são “transmitidos entre animais e humanos”. “Investigações detalhadas mostraram que o SARS-CoV foi transmitido entre gatos-civeta e humanos e o MERS-CoV de camelos dromedários para humanos”, explica a OMS.
As recomendações da OMS para conter este novo surto incluem:
- lavar as mãos regularmente;
- tapar a boca e o nariz quando se tosse ou espirra;
- evitar o contacto “não necessário e desprotegido” com animais;
- cozinhar bem a carne e os ovos;
- evitar o contacto com todos os que apresentem sintomas de doença respiratória, como tosse ou espirros.
Estas recomendações são reforçadas pela Direcção-Geral de Saúde portuguesa.
As comparações com a síndrome respiratória aguda grave (mais conhecida como SARS) são quase inevitáveis e saem fortalecidas depois da análise ao genoma deste novo coronavírus, que demonstrou ser mais semelhante à SARS do que a qualquer outro coronavírus. O último surto de SARS começou no Sul da China e foram registados mais de oito mil casos em todo o mundo. Cerca de 800 pessoas morreram entre 2002 e 2003. Desde 2004 que não há registo de nenhum novo caso a nível mundial e a comunidade médica considera a SARS erradicada. Os sintomas de SARS são comuns a outras infecções respiratórias virais: febre, calafrios, dores musculares, tosse e dificuldades respiratórias.