Carlos Ghosn era monitorizado em permanência pelas autoridades, mas conseguiu fugir
Ex-patrão da Renault-Nissan escapou do Japão, onde aguardava julgamento por desvio de fundos. Empresário ter-se-á escondido em caixa de instrumentos para conseguir sair da habitação.
Carlos Ghosn, ex-patrão da Renault-Nissan que conseguiu sair do Japão onde aguardava julgamento por alegadamente ter desviado milhões de euros da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, era alvo de monitorização constante das autoridades nipónicas, revela a agência Reuters. De acordo com a história relatada na terça-feira pelo canal noticioso libanês MTV, o empresário ter-se-á escondido numa caixa de instrumentos após um concerto privado na habitação de Ghosn, que se refugiou no Líbano.
A evasão apanhou toda a gente de surpresa, inclusive o advogado do empresário, Junichiro Hironaka. “Estou completamente estupefacto. Nem sei se conseguimos entrar em contacto com ele. Não sei como iremos proceder a partir deste momento”, afirmou o advogado na terça-feira.
A casa imponente onde Carlos Ghosn viveu nos últimos sete anos — e que serviu de ponto de partida para uma ousada fuga — está integrada num enclave de Tóquio onde os ocidentais e carros de luxo passam despercebidos.
Porém, os vizinhos dizem que era impossível não reparar num dos executivos mais conhecidos do mundo, ou no carro preto que rondava a habitação de Ghosn, sempre que este estava por perto. Uma lembrança sombria da vigilância feita ao ex-patrão da Renault-Nissan, depois da libertação sob fiança por suspeitas de ilegalidades financeiras.
Na terça-feira, Ghosn afirmou que fugiu para o Líbano para escapar a um sistema de justiça japonês “viciado”, uma revelação surpreendente que levanta questões sobre o modo como um dos empresários mais conhecidos do mundo conseguiu ludibriar as autoridades nipónicas. Especialmente após ter entregue o passaporte, uma das obrigações do regime de fiança.
Hana Takeda, antiga vizinha de Ghosn, garantiu que não era raro ver o empresário a passear com uma das três filhas. “Ele não era muito secreto. Via-o passar tempo com a filha”, explicou à Reuters.
A casa grande, com múltiplos andares, está localizada perto do distrito de Roppongi, área popular entre diplomatas e executivos ocidentais. Há presença policial, devido à proximidade de embaixadas e residências de diplomatas. Muitas casas têm carros de luxo estacionados à porta, como viaturas da BMW, Bentley e Land Rover.
Três câmaras de videovigilância espreitam da varanda acima do alpendre de tijolo. De acordo com os regulamentos da fiança, Ghosn era obrigado a ter câmaras instaladas na entrada da casa.
Quando um repórter da Reuters tocou à campainha, ninguém atendeu. Uma garagem dupla estava fechada e as cortinas tapavam as janelas. Os pisos superiores tinham os estores encerrados.
Um polícia de bicicleta fazia rondas no pequeno bairro. Um outro vizinho, o americano Whitney Rich, de 62 anos, garantiu que reparava algumas vezes num carro preto perto da casa do empresário.
Ghosn foi detido em Tóquio em Novembro de 2018 e enfrenta quatro acusações, que garante não serem verdadeiras. Estas suspeitas incluem a ocultação de rendimentos e enriquecimento ilícito através de pagamentos a concessionárias no Médio Oriente.
Parece pouco provável que o empresário seja julgado em Tóquio, visto que o Japão não possui acordo de extradição com o Líbano.