“Temos de decidir se é mais importante o desenvolvimento ou algumas décimas de superavit”
Em tempo de debate orçamental, o Bloco de Esquerda defende que se deve apostar em dar resposta às crises climática e social. Também o PAN acompanha as preocupações do Presidente e lembra que o PS não tem maioria absoluta.
O Bloco de Esquerda e o partido Pessoas-Animais-Natureza mostraram-se agradados com a mensagem de Ano Novo do Presidente da República, em particular a preocupação revelada com a crise social e a emergência climática e por ter sublinhado que o PS não tem maioria absoluta, pelo que tem de negociar para governar. “O diálogo só é útil se servir para alguma coisa, para prosseguir políticas de avanço e não de estagnação ou retrocesso”, acrescentou o PCP.
Em tempo de debate orçamental, estes dois partidos que aprovaram o último Orçamento do Estado vieram recordar como é “importante que o Governo perceba que não tem maioria absoluta e que vai ter de ir ao encontro dos outros partidos”, nas palavras da deputada do PAN Inês Sousa Real, e como são importantes as opções que se façam para as contas de 2020.
“Precisamos de decidir se as escolhas para o desenvolvimento económico e social do país são mais importantes que algumas décimas de superavit para mostrar em Bruxelas”, atirou José Gusmão, eurodeputado do BE, depois de ter apontado a necessidade de reforçar o investimento nos serviços públicos e em politicas sociais.
“Precisamos de saber e decidir se o crescimento que foi tornado possível com a devolução de rendimentos vai ou não ser utilizado para o investimento no desenvolvimento do país, nos serviços públicos, em políticas sociais que não deixem ninguém para trás, pelo emprego, pelo salário e por uma resposta determinada e eficaz ao grande combate do nosso tempo que é o combate às alterações climáticas”, disse.
Pelo PCP, o dirigente Rui Fernandes não manifestou entusiasmo com a mensagem presidencial e foi pragmático: deixou claro que as boas intenções do Governo em determinados sectores vão avaliar-se em termos de políticas reais e dotações orçamentais, opções essas que, afirma, os comunistas não têm visto. “Mas vemos os milhões que continuam a ser injectados na banca e valorização de excedentes orçamentais para outros efeitos que não o do investimento”, contrapôs.
Inês Sousa Real destacou, por outro lado, a importância “simbólica” de Marcelo Rebelo de Sousa ter optado por fazer a passagem de ano nos Açores, porque esta será “uma das regiões mais afectadas pelos fenómenos climáticos extremos”. Mas também para chamar a atenção para as assimetrias regionais, alertando “para a distância que existe entre as pessoas e a resposta dos serviços públicos aos seus problemas” na saúde e no combate à pobreza e à exclusão social.
CDS fala de “caos” na saúde
Ao contrário dos antigos parceiros da geringonça, o CDS pegou na mensagem presidencial para pintar de negro o estado do Serviço Nacional de Saúde. Para o eurodeputado Nuno Melo, o país vive um “caos na saúde, com atrasos nas consultas ou nas cirurgias, um aumento perfeitamente absurdo das dívidas na saúde que antes deste Governo e com outro Governo vinham sendo reduzidas ano após ano”.
Nuno Melo apontou ainda o dedo ao executivo em relação à política de impostos, considerando que a actual linha impõe “a maior carga fiscal de que há memória”. “Aqui com uma nota muito particular para uma classe média que trabalha, que se esforça, que quer vencer, mas que contas feitas, pagos todos os impostos, fica com o rendimento disponível de quase nada”, salientou.
Do discurso de Marcelo Rebelo de Sousa, os centristas referiram ainda o apelo do Presidente a que haja uma oposição “alternativa e forte” ao Governo. Num momento em que o partido se prepara para eleger um novo líder, Melo sublinha que “o CDS foi sempre uma oposição alternativa, forte e eficaz”, apesar de viver “um momento muito particular na sua história”. “Certo estou que, contados os votos, o CDS reencontrará a sua liderança, continuará esse caminho na oposição como, quando for caso disso, no exercício do poder”, garantiu. Com Lusa