Avisos que vêm de Espanha
A estabilidade que muitos eleitores espanhóis desejavam acabou por não sair das eleições deste domingo.
A maior parte dos eleitores que no domingo fizeram as suas escolhas nas eleições espanholas tinham provavelmente um desejo comum, para além das diferentes opções políticas de cada um. O de que após quatro eleições legislativas em quatro anos e as segundas em sete meses, o país pudesse encontrar uma solução governativa, se não estável, pelo menos viável. Não foi isso que aconteceu, muito pelo contrário.
O PSOE voltou a ganhar, mas menos. O PP recuperou, mas menos do que necessitava. O Cidadãos, que em tempos propunha fazer a ponte entre os vermelhos e azuis, ficou reduzido a muito menos do que prometia e o Podemos, a outra força que desafiava as leis do bipartidarismo, também ficou com menos força. Mais, claramente mais, o Vox, a força de extrema-direita que duplicou a sua presença no parlamento espanhol.
O reavivar das lógicas nacionalistas devido à crise catalã, somadas à insatisfação de muitos cidadãos perante o sistema político, reforça a força das respostas primárias do Vox. Em Espanha não houve “cordão sanitário” que isolasse o partido de Santiago Abascal e o resultado está à vista.
Muito se escreverá sobre como a extrema-direita se tornou a terceira força política num dos mais importantes países europeus. Mas valerá ainda a pena analisar o que aconteceu ao maior sacrificado em resultado desta subida, o Cidadãos. Um partido que ainda há bem pouco tempo pensava poder ultrapassar o PP, que começou por ser uma força que privilegiava o centrismo, acabou por sacrificar o seu projecto à competição com os populares e com a extrema-direita. Nunca foi capaz de estabelecer pontes com o PSOE, mas viabilizou um governo regional com o Vox. A sensatez deu lugar à emoção e à inconstância e o resultado está à vista: os eleitores acabaram por preferir os originais (PP e Vox) à imitação. Um aviso que a direita portuguesa não deve deixar de ouvir.
Mas a esquerda também tem a obrigação de ficar atenta. As eleições existem para que delas possam sair opções de governação para um país, mas o que saiu do sufrágio de ontem foi também um castigo para aqueles que à esquerda, PSOE e Unidas Podemos, falharam o objectivo da estabilidade, ao não conseguirem viabilizar um governo após as eleições de Abril. Ninguém parece ter lucrado nada com o jogo do passa-culpas. Um aviso para os protagonistas nacionais de uma solução parlamentar que ainda não passou pelos testes de esforço.