Acaba de nascer uma marca de swimwear pensada exclusivamente para mulheres mastectomizadas, ou seja, que tiveram de remover cirurgicamente uma mama. A Mihi (palavra em latim que significa Eu) foi lançada hoje, dia 31 de Outubro, no fim de um mês tradicionalmente usado para lembrar o flagelo (há quatro portugueses que morrem por dia, vítimas de cancro da mama), mas também para se reflectir sobre a importância do rastreio e do diagnóstico precoce, numa doença em que a taxa de cura atinge os 98% aos cinco anos, quando detectada em fase inicial.
As peças, apresentadas agora, que podem ser encomendadas online, primam por rasgar com o conceito de que para se usar uma prótese tem de se colocar uma roupa, tecnicamente perfeita, mas esteticamente aborrecida. Assim, a concepção desta linha pretendeu sublinhar conceitos como “contemporaneidade, jovialidade e modernidade", explica a criadora, Rute Vieira, designer de profissão que, após ter sido submetida a uma mastectomia na sequência de um cancro da mama, se viu a braços com a difícil tarefa de renovar o seu stock de roupa interior que pudesse incluir a prótese que “não é um capricho” — o corpo estranho que passa a ser incluído tem como objectivo equilibrar o peso simétrico, algo que se reflecte a nível de pose e, consequentemente, na coluna.
A ideia da colecção, explica Rute Vieira ao PÚBLICO, surgiu quando teve autorização do médico para voltar a fazer praia. “Houve um enorme desencontro entre as expectativas e o que encontrava.” Foi descobrindo marcas, sobretudo alemãs, exímias a níveis técnicos, mas com formas e padrões que não se adequavam ao seu gosto: "No Sul da Europa temos outros gostos", explica. E, mesmo em termos de conforto, sentia sempre que ou a prótese estava a descair ou que a cicatriz estaria à vista. Por isso, começou “por desconstruir as peças para pensar num novo produto que não falhasse na funcionalidade”.
As peças propostas pela Mihi são de um tecido criado a partir de fio reciclado de materiais de poliéster — o malha ECONYL®, feita a partir de redes de pesca descartadas e abandonadas nos oceanos — que permite garantir a resistência. E a sua confecção é feita em Portugal, “o que permite um maior controlo sobre a qualidade”.
Quando, por fim, decidiu avançar com o negócio, sentiu a necessidade de chamar mais mulheres mastectomizadas para darem o seu contributo. Foi o início da parceria com Ana Paula Lopes, com a qual criou “uma grande empatia” e que é arquitecta de formação. A partir daí, as cores desdobraram-se, os modelos multiplicaram-se.
A colecção apresenta três tamanhos, S, M e L, que correspondem às próteses números 2/3, 4/5 e 6/7, e é composta por fatos de banho e biquínis que, além de confortáveis, favorecem a silhueta de uma mulher após uma mastectomia. “Queremos ser mais do que uma marca de roupa. Desejamos contribuir de forma positiva para o equilíbrio, serenidade e elevação da auto-estima de cada mulher”, afirma Rute Vieira, citada em comunicado.
Para já, as compras podem ser efectuadas online, estando disponíveis para entrega imediata 75% dos artigos; os restantes, que podem ser encomendados, ficarão disponíveis em Fevereiro. Os preços para os fatos de banho oscilam entre os 69,90€ e os 95,90€; top bikinis e top tankinis custam entre 49,90€ e 65,90€ e as partes de baixo podem ser compradas a partir de 35,90€ até 42,90€.