Incêndios de Outubro: o que mudou em dois anos?

O fotógrafo Adriano Miranda regressou ao cenário dos incêndios de Outubro de 2017 e mostra o que mudou e o que continua igual, em ruínas.

Foto

Quando estudava Fotografia, todos os jovens aspirantes a fotógrafos sonhavam ser fotojornalistas. Existia uma visão romântica e apaixonada. Todos sonhavam ser fotógrafos de guerra. Eu nunca tive esse desejo. Desejava mais que não existissem guerras. Mas no dia 17 de Junho de 2017, um simples telefonema, mandou-me para a frente de combate. A guerra como lhe chamei na altura. Como senti e vi. E no dia 15 de Outubro do mesmo ano voltei a ser chamado. Incorporado numa luta desigual. Fotografei como um louco. Fiquei com os olhos raiados de sangue e a pele seca. Cheirava mal. E bem por de trás do visor da máquina fotográfica muitas vezes chorei. Ou no carro. Ou junto a um corpo. Ou junto a uma habitação. Fotografei como um louco. Perdido por vezes. Arrepiado sempre. 

Albina Araújo, António e José Vítor ficaram sem casa. Actualmente vivem nesta escola
Carpintaria de Ana Luiz Soares e Manuel Luiz Soares, empresa de construção especializada em madeira onde trabalhavam e que ficou destruída pelo fogo
Castelo de Paiva (I)
Edifício onde viviam duas famílias e existia uma oficina e um café
Ana Luiz Soares e Manuel Luiz Soares fotografados na sua antiga carpintaria

Voltar aos locais da guerra é um hábito. Percorrer o que agora parece arrumado, mas que continua a ser um caos. Sente-se um país a várias velocidades, consoante as linhas das fronteiras administrativas. Há quem tenha já casa. Há quem continue à espera. Há quem tenha a sua empresa reconstruída. Há quem ainda não tenha colocado um tijolo. Há quem já tenha plantado folhosas. Há quem já tenha desistido. Depressão é o que se sente a brotar da terra. E todos são unânimes – vai voltar a acontecer.  

As placas de sinalização foram destruídas e ainda não foram substituídas
António Silva, motorista desempregado, fotografado na sua casa destruída
Fábrica de solas de sapatos que ficou destruída
António Óscar, proprietário da fabrica de solas de sapatos
As marcas das chamas

Fotografei como um louco. Agora as fotografias repousam num disco externo. Arquivadas. Mas o pior, são aquelas fotografias que me recusei a fazer. Ficaram na minha mente. Cravadas a nitrato de prata como antigamente. Todos os dias me deito com elas. Todos os dias me consomem. Imagino o que sentirão as vítimas de tamanha guerra. Sobrevivem, resistem ou desistem. A minha vénia vai para elas.

Albina Araújo sonha com a sua casa nova
Albina Araújo e José Vítor continuam a viver na escola primária, à espera que recuperem a sua casa
A empresa J Guerra ficou completamente destruída e só agora começaram as obras
A reconstrução em curso
Um caminho limpo
Ardeu 70% da área florestal de Castelo de Paiva. Hoje os eucaliptos crescem a uma grande velocidade
Pinhal de Leiria (I)
Pinhal de Leiria (II)
Pinhal de Leiria (III)
Pinhal de Leiria (IV)
Pinhal de Leiria (V)
Sucata recolhida
Pinhal de Leiria (VI)
Pinhal de Leiria (VII)
Pinhal de Leiria (VIII)
Estrada com bermas limpas
Pinhal de Leiria (IX)
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