Pelosi diz que houve encobrimento do pedido de Trump ao Presidente ucraniano

Director dos Serviços Secretos reconhece “demora” na divulgação da denúncia ao Congresso, mas nega intenção de “varrer a questão para debaixo do tapete”.

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Joseph Maguire reconheceu que não enviar a denúncia rapidamentefoi uma situação "sem precedentes" mas recusou que tivesse havido uma "tentativa de varrer a questão para debaixo do tapete" JIM LO SCALZO/EPA

O Presidente dos Estados Unidos “está a usar o poder do seu cargo para solicitar interferência de um país estrangeiro nas eleições de 2020” e a Casa Branca tentou bloquear informação para o ocupar, disse um agente dos serviços secretos cuja denúncia anónima foi entregue a 12 de Agosto ao director dos Serviços Secretos.

Se já se sabia que Donald Trump pedira ao Presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, para investigar Joe Biden, seu potencial rival democrata, num telefonema de 25 de Julho (pressionada, a Casa Branca divulgou um resumo da conversa), a denúncia agora tornada pública acrescenta os esforços que altos responsáveis da Casa Branca terão feito para esconder a conversa, o que, para o denunciante, dá a entender que “compreenderam a gravidade do que transparece na chamada telefónica”.

Questionada sobre a denúncia, a líder da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, não teve dúvidas em afirmar que “houve encobrimento”.

Pelosi, que resistiu durante meses a pressão de outros democratas para iniciar um processo de impeachment contra Donald Trump, anunciou na terça-feira que vai começar um inquérito para o início de um processo de destituição por “traição da segurança nacional”.

Esta quinta-feira, na sua conferência de imprensa semanal, Pelosi acrescentou que a directoria dos Serviços Secretos (DNI) desrespeitou a lei ao não enviar a denúncia anónima para a Comissão de Serviços Secretos da Câmara dos Representantes, como previsto na lei. “A lei é muito clara: o DNI deve passar a denúncia às comissões de Serviços Secretos – não a todo Congresso – mas às comissões – por isso, ele tem de passar a informação.”

Ouvido esta quinta-feira na Comissão dos Serviços Secretos, Joseph Maguire, que ocupa desde 16 de Agosto a direcção dos Serviços Secretos interinamente após a demissão de Dan Oats, reconheceu que a primeira entidade que contactou foram os advogados da Casa Branca. Maguire defendeu a sua decisão, dizendo acreditar que podia existir uma situação de privilégio executivo (que dá ao Presidente a capacidade de não passar informação ao público, Congresso e tribunais quando o assunto envolve segurança nacional).

Maguire esforçou-se por negar que tenha havido uma tentativa do organismo que lidera de “varrer a questão para baixo do tapete” – houve uma demora, reconheceu, mas “só perdemos alguns dias”. Ainda assim, admitiu que a situação “não tem precedentes”.

A avaliação inicial da denúncia – que, sublinhou, é apenas uma avaliação inicial – é de que é credível, disse Maguire. Mais, considerou que o denunciador cumpriu os passos exigidos pela lei e parecia estar a agir de boa-fé.

Quando questionado sobre pormenores da denúncia, nomeadamente sobre uma tentativa de encobrimento, disse que “tudo o que há neste momento é uma alegação”, que tem ainda de ser investigada.

A denúncia tem uma série de detalhes e Maguire comprometeu-se a permitir que o denunciante (ou a denunciante, a sua identidade não é conhecida nem por Maguire) seja ouvido no comité assim que seja determinado como o fazer (continua a ser necessário proteger o anonimato da pessoa).

Diz que na conversa, Trump sugeriu a Zelensky que entrasse em contacto com o procurador-geral norte-americano, William Barr, e com o seu advogado pessoal, Rudolph Giuliani. Giuliani “é uma figura central nesse esforço” de convencer o líder ucraniano a investigar Biden, e que “o procurador-geral Barr também parece ser”.

Conversa “perfeita”

Donald Trump negou, entretanto, qualquer problema na sua conversa telefónica com o Presidente ucraniano, dizendo que foi “perfeita”. No Twitter, acusou os democratas de tentarem destruir o Partido Republicano e apelou à unidade dos republicanos.

Enquanto na Câmara de Representantes os democratas têm uma maioria para aprovar o início do processo de impeachment, a destituição tem de passar pelo Senado, onde os Republicanos têm a maioria. Mas quanto mais informação aparece, mais sobe a pressão sobre os republicanos.

Na sessão com Maguire, foi notado que os republicanos que mais tentaram ajudar Maguire eram congressistas – e não senadores. Laura Litvan, repórter da agência Bloomberg que cobre o Congresso, contou no Twitter o que aconteceu quando pediu comentários a senadores republicanos: “Estou a obter três respostas: 1) ‘não vi o relatório da denúncia por isso não posso comentar’, 2) ‘sou potencial jurado se houver um julgamento no Senado, por isso não devo comentar’ e 3) silêncio, lábios cerrados, fuga rápida.”

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