Vegetarianos têm maior risco de AVC, mas menor de doença cardíaca

Estudo britânico observou 48.188 adultos de meia-idade sem históricos de doenças cardíacas ou AVC ao longo de 18 anos

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Allie Smith/Unsplash

Quem segue dietas vegetarianas ou vegans pode ter menos hipóteses de sofrer de uma doença cardíaca, contudo, poderá ter mais possibilidades de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) do que quem come carne, avança um estudo britânico que observou 48.188 adultos de meia-idade sem históricos de doenças cardíacas ou AVC ao longo de 18 anos.  

Durante esse período, 2820 dos observados desenvolveram uma doença arterial coronária que pode levar a ataques cardíacos; 519 pessoas tiveram AVC isquémicos – o tipo mais comum, que ocorre quando um coágulo bloqueia uma artéria que leva sangue ao cérebro; e 300 tiveram AVC hemorrágicos, causados ​​por um vaso sanguíneo que se rompeu no cérebro.

Os vegetarianos – incluindo vegans, aqueles que não comem ovos e lacticínios – tiveram menos 22% de possibilidades de desenvolver uma doença arterial coronária do que os que comem carne. No entanto, tiveram mais 20% de hipóteses de sofrer um AVC do que os que comem carne. 

“As pessoas que comem peixe e os vegetarianos tiveram, em média, um índice de massa corporal mais baixo e taxas mais baixas de pressão alta, colesterol alto e diabetes em comparação com os que comem carne, o que pode explicar o menor risco de doença cardíaca”, explica Tammy Tong, epidemiologista nutricional da Universidade de Oxford, no Reino Unido, responsável por este estudo.

Por isso, a razão para que os vegetarianos e vegans corram maiores riscos de AVC “é menos clara, mas algumas evidências recentes sugerem que, embora os baixos níveis de colesterol sejam protectores contra doenças cardíacas e AVC isquémicos, esses mesmos níveis muito baixos de colesterol podem estar associados a um maior risco de hemorragia”, continua o investigador. Logo, essas pessoas podem ter mais hipóteses de sofrer um AVC.

Para fazer esta avaliação, no início do estudo, foram feitos inquéritos aos hábitos alimentares dos inquiridos e, 14 anos depois, esses questionários voltaram a ser preenchidos. As pessoas que comiam carne – independentemente de comerem peixe, lacticínios ou ovos – foram classificadas como “consumidoras de carne”, eram 24.428 no início do estudo e 96% permaneceu “comedor de carne” com base nos questionários de acompanhamento. Quanto aos “consumidores de peixe”, no início do estudo havia 7506 que não comiam carne, mas apenas 57% desses participantes mantiveram essa dieta. Outras 16.254 pessoas começaram como vegetarianas ou vegans, sem comer carne ou peixe, no início, e 73% permaneceram após 14 anos.

“As directrizes alimentares recomendam o aumento da ingestão de alimentos nutritivos inteiros, como frutas e legumes, e redução da ingestão de alimentos e bebidas ultra processadas”, avalia Mark Lawrence, investigador de saúde pública e nutrição da Deakin University, em Melbourne, Austrália, e co-autor de um texto que acompanha o estudo. “Cada vez mais, as directrizes alimentares mundiais reconhecem as dietas à base de plantas pela sua sustentabilidade ambiental e pelos seus benefícios para a saúde”, refere Lawrence por e-mail. “Porém, mudar para padrões alimentares baseados em plantas por razões de saúde pessoal ou planetária não significa necessariamente tornar-se vegetariano”, salvaguarda.