O Dia da Mulher é quando se quiser: onde estão elas no Nos Alive?

Na noite em que Grace Jones dominou as atenções e Beth Ditto, dos Gossip, também deu nas vistas, um pequeno palco do festival abriu-se apenas artistas do sexo feminino: Bia Maria, Márcia, Marinho, Chong Kwong e Sreya foram as convidadas.

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Chong Kwong ANDREIA GOMES CARVALHO

“É triste que em 2019 a representatividade das mulheres ainda seja um assunto. Que ainda tenhamos de chamar a atenção das pessoas e dizer: ‘olá, nós existimos'”, desabafa Sreya, uma das artistas que na sexta-feira entraram em cena no Nos Alive através da porta aberta pelo Palco Coreto. Ao segundo dia do festival, um dia marcado pela passagem da incrível Grace Jones pelo Palco Sagres (onde também vimos Tash Sultana) e pela exuberância de Beth Ditto, dos Gossip, no fecho do Palco Nos, o recinto programado pela agência Arruada recebeu exclusivamente artistas do sexo feminino, repetindo uma estratégia que já tem três anos. Além de Sreya, também Bia Maria, Márcia, Marinho e Chong Kwong ali foram exibir os seus talentos.

“Quero mandar um grande props para a Arruada por organizar um dia de concertos só com miúdas, estão a fazer o mais acertado”, dizia ao PÚBLICO esta artista que lançou o seu primeiro álbum, Emocional, em Agosto de 2017. É entre risos que explica como surgiu a ideia para este disco que acabou por ser produzido pelo seu amigo de longa data Tiago Miranda, mais conhecido como Conan Osiris: “Um dia acordei e pensei que era fixe musicar uns poemas que tinha escrito.” O objectivo é agora que até ao final deste ano o seu segundo álbum (com produção de Primeira Dama) veja a luz do dia.

Quando foi convidada para participar no festival, Sreya não sabia que iria encaixar-se num dia exclusivo para as “miúdas”, mas ficou muito contente com a ideia: “Espero que as pessoas tenham em mente o que se está a passar neste palco.”

Também Bia Maria –​ que começou a fazer música há menos de um ano, a convite de amigos da editora independente Chinfrim Discos, e está a preparar-se para lançar o seu primeiro EP, Mal Me Queres, Bem Te Quero –​ acredita que o trabalho desenvolvido no Palco Coreto pode ser um “incentivo para outras raparigas que estejam a fazer música”, fazendo-as acreditar que tocar num grande festival não tem de ser uma miragem.

A visão de Chong Kwong, nome artístico de Vanessa Pires, rapper com influências de música asiática e africana, é um pouco diferente. “Pelo meu background a trabalhar no mundo de start-ups, incubadoras e investidores, vejo a música como um negócio, e não gosto de olhar para o género porque isso pode limitar-nos”, diz. “Mesmo que no final do dia eu seja uma mulher, e uma mulher a rimar, sempre tentei que as minhas acções fossem independentes do género. Se a tua música e a mensagem que queres passar forem fortes; se fores inteligente, tiveres classe, souberes estar e, acima de tudo, o que estás a fazer,​ consegues cruzar essa barreira facilmente.”

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Chong Kwong ANDREIA GOMES CARVALHO

O responsável pela Arruada, Pedro Trigueiro, nota que desde que a agência assumiu a curadoria do Palco Coreto, há três anos, há um dia especial para as mulheres. “Mas não é só por serem mulheres que têm passe livre, é por mérito próprio. Está a aparecer muita música interessante do sexo feminino em diversos estilos”, ressalva”, dizendo estranhar que haja “pessoas que se questionam por que é que há um dia dedicado só a mulheres, quando em anos anteriores nunca se questionaram por que é que houve dias em que só actuaram homens.” Texto editado por Inês Nadais

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