O fenómeno Ornatos Violeta explicado a um estrangeiro (e outras aventuras nacionais no Nos Alive)
Com a banda de Manel Cruz e os Linda Martini projectados para o palco principal, e o palco Coreto a acolher talentos emergentes da cena musical nacional, não houve falta de prata da casa no primeiro dia do festival.
“Não vamos passar o resto do dia junto às grades, vamos ficar aqui só para ver Linda Martini”, explicava um grupo de jovens enquanto aguardava pela actuação da banda de Queluz, que na quinta-feira regressou ao palco principal do festival Nos Alive, onde esteve pela última vez em 2013.
“Não tínhamos noção de que já tinham passado tantos anos desde que tocámos neste palco”, confessava o baterista Hélio Morais ao PÚBLICO. Os Linda Martini abriram o maior palco do recinto em jornada encabeçada pelos Cure e foram recebidos de braços abertos pelos seus fãs, que acompanharam religiosamente as letras das suas canções, de Panteão até Cem metros sereia.
A representação nacional no primeiro dia do festival foi significativa: além de Linda Martini, também o regresso dos Ornatos Violeta mereceu destaque no palco Nos. “Dois quintos do palco principal foram preenchidos por artistas portugueses”, apontava Hélio. “Acho que o Alive é dos festivais que conseguem ter a melhor representação de artistas nacionais”, acrescentava a baixista Cláudia Guerreiro. “Há vários palcos e é atribuído bastante respeito a todos eles.”
Os Ornatos Violeta foram um (previsível) sucesso, num concerto que atravessou gerações e que foi marcado pela emocionante entrega em palco de Manel Cruz e dos fãs da icónica banda portuguesa, que ainda sabiam as letras das musicas na ponta da língua.
Para além destes concertos no palco Nos, Stereossauro esteve no Nos Clubbing a apresentar Bairro da Ponte, projecto que funde a electrónica e o hip-hop com o fado, contando com o fadista Camané e com o rapper Nerve como convidados. Apesar de ter coincidido com a actuação dos cabeças de cartaz, o produtor conseguiu reunir uma quantidade respeitável de curiosos para dançar ao som do seu fado moderno. Funkamente foi o outro projecto português presente nesse palco, ao passo que Y.Azz x B-Mywingz, banda vencedora do EDP Live Bands português, passou pelo Palco Sagres.
Um festival dentro de um festival
O epicentro da divulgação da música portuguesa no Nos Alive, porém, é o Palco Coreto que, com curadoria da agência Arruada, traz artistas emergentes ao festival. Introduzido em 2015 e programado pela Arruada desde 2017, vem funcionando como “uma espécie de tubo de ensaio”, explica Pedro Trigueiro. O objectivo, explica o fundador da agência, é “trazer para a luz da ribalta aquilo que está mais quente em Portugal mas ainda não cabe num palco maior”.
O primeiro dia do festival viu subir a este palco Jasmim, Sunflowers, Ricardo Toscano, Solar Corona e Vaarwell. “É fixe as bandas portuguesas estarem representadas nos festivais grandes, mesmo em palcos secundários porque muitas vezes são os melhores”, notava Carlos de Jesus, dos Sunflowers. “Não me importo de tocar num palco um pouco mais deslocado: assim só vem mesmo quem quer.”
A verdade é que, apesar da localização menos privilegiada do concerto da banda constituída por Carlos, Carolina Brandão e Frederico Ferreira, foram muitos os corpos suados e os cabelos a voar ao som de músicas como Zombie ou Charlie don’t surf.
“Tivemos australianos a dizer que vinham ver-nos”, dizia Carolina entre risos. E apesar de os Sunflowers duvidarem do espírito “aventureiro” e da curiosidade dos estrangeiros, a verdade é que ao longo do primeiro dia festival foi possível observar as caras surpresas de turistas estrangeiros face à resposta que os portugueses ofereciam aos seus conterrâneos. A expressão intrigada de um espectador britânico equipado a rigor para ver The Cure e captado pelos ecrãs gigantes enquanto milhares cantavam o refrão de Chaga dos Ornatos Violeta foi impagável. Texto editado por Inês Nadais