De mota pela costa portuguesa, em busca da praia perfeita
Em Agosto de 2017, Luís Pedro Nunes e Tiago Froufe partiram numa viagem de mota pela costa portuguesa. Objectivo? Percorrer o maior número de areais em duas semanas, de Moledo a Vila Real de Santo António. Mais do que um guia, Em busca da praia perfeita revela-se uma longa reflexão sobre a relação quinta-essencial dos portugueses com o mar banhado de areia. E com a praia, a sua praia, a praia perfeita.
“Portugal gosta de praia, não apenas em dias de eleições, mas nos outros todos. Eis uma certeza que se tem quando se parte e vem reforçada à chegada: Portugal ama a sua prainha. Há um respeito cerimonial ao Verão e ao mês de Agosto e não é pelas «férias», é obviamente pela praia”, lê-se na introdução, escrita por Luís Pedro Nunes, jornalista, cronista, comentador, director do suplemento Inimigo Público.
“A praia manda em muito do país laboral, do país mental, da relação entre as pessoas.” Bem-vindos ao “país de praias em que as pessoas, quando têm um dinheirinho, vão de férias para outros destinos de praias”.
O livro que resulta daquela “viagem inesquecível em duas rodas”, lançado à estampa em Abril deste ano, acaba por ser muito mais do que a “busca da praia perfeita” que dá mote e título ao projecto.
É uma mistura entre guia de praias – encolhido em coluna no centro das páginas, mas com direito a 58 areais, com respectiva descrição e informações básicas, como os tipos de acessos, a existência de apoio de praia e vigilância ou, não menos importante, a temperatura média da água – e uma longa teorização “sobre o que nos motiva, enquanto povo que se banha no mar, a termos uma relação tão intensa com a «nossa» praia”.
“Todas as praias, para os que as amam, são as melhores de Portugal. É diferente de outros amores, digo-vos. E lá falam de uns dias perfeitos que terão vivido naquela praia, uns dias de sol, calor, perfeitos que habitam os seus sonhos. A noção de tribo, posse territorial, regresso sazonal ao encontro dos nossos e do nosso pedaço, faz da noção de praia algo mais do que isso de ir à água e bronzear.”
Mas não só. Ao longo do livro, entre o relato de viagem e um ou outro regresso a livros e memórias, lê-se sobre a eterna discussão entre viajantes e turistas, fala-se de peripécias de viagens e as alterações que as novas tecnologias trouxeram ao espírito viandante.
Recorda-se como uma praia pode entrar para a ribalta por causa de um político, de um assassino, de um surfista. Como a “mera abertura de um caminho acessível” pode mudar “toda a estrutura social de uma praia” e fazer com que “praia quase deserta, o tal segredo acessível apenas por uma mera estrada de areia, se torne de repente a alegria das famílias e «domingueiros»”. Versa-se sobre corpos e pêlos e trajes banhistas. Sobre os “super-ricos da Comporta” e os prisioneiros da Pinheiro da Cruz. Sobre a natureza selvagem e selvática da Costa Vicentina.
Mas também “praias geniais”, como Monte Clérigo, no concelho de Aljezur – “O acesso por norte ou por sul deu-me nesse dia a sensação de duas praias diferentes, com águas azuis espumadas e bravas de um lado e verde e densas e calmas, do outro.” E, mais acima, a praia da Amália – “linda, sim senhor, e onde se vai para acreditar que o espírito da fadista por ali vagueia e para lá chegar temos de passar um longo túnel de árvores e flores como que uma passagem vicentina, mas de um auto de Gil Vicente, onde a barcaça deixou a fadista”.
E, no final de contas, atravessada a costa de Moledo a Vila Real de Santo António, qual seria a praia portuguesa perfeita? Teria um miradouro sobranceiro e uma estrada paralela rodeada de árvores, um areal infinito, branco e dourado, ladeado por cordões dunares e “umas enseadas tipo Sesimbra ou Lagos, de água verde-azul”, com a temperatura da água como “Monte Gordo nos dias bons”. Se alguém a conhecer, não diga a ninguém. Ainda há praias secretas e perfeitas?