Porque o meu avô dava sangue e o exemplo a seguir. Porque todos temos sangue mas às vezes, e muitas vezes, fruto de um acidente, uma doença ou tragédia, nem todos temos sangue e os hospitais também não. Porque trabalhei em hospitais e vi o sofrimento, a necessidade, a morte desnecessária, fácil, fútil.
Porque sim, é nosso dever, é nossa obrigação, não custa nada, custa tempo e meio litro de sangue uma vez por mês, os enfermeiros e as enfermeiras são de uma simpatia inigualável, o café e as bolachas estão sempre disponíveis e os sorrisos também, sem esquecer os elogios às boas veias deste ciclista que vos escreve.
O Dia Mundial do Dador de Sangue celebra-se a 14 de Junho, mas para mim celebra-se todos os meses na alegria da dádiva, da vida, do sangue. Para mim é uma festa, é esperar ansiosamente pelo dia e poder dizer, genuinamente feliz, “hoje vou dar sangue!”, sem saber explicar muito bem porquê o sorriso no rosto. Ou talvez saiba explicar na comunhão de quem comigo está na altura da colheita, nos sorrisos cúmplices, no humanismo de tal acto, a paz naquela sala, o agradecimento nos olhares de quem nos assiste sem ser preciso dizer uma palavra.
Ao mesmo tempo é também uma garantia de saber como está tudo bem connosco, ou não fosse o sangue sujeito a análises posteriores. Se houver algum problema, avisam-nos, telefonam-nos, aconselham a marcação de uma consulta.
Nunca precisei de sangue, mas talvez precise e o futuro quem sabe. O mesmo aplica-se a cada um de nós. Dar sangue hoje é a garantia da disponibilidade do mesmo amanhã para uma emergência, uma operação, e todos os dias há emergências, todos os dias há operações, centenas, milhares por todo o país, milhões por todo o mundo.
E por isso é preciso dar, gratuitamente, para bem do outro, sem esperar nada em troca a não ser o reconhecimento de ter ajudado uma vida, salvo uma vida, como se por um instante, uns breves minutos, fôssemos todos super-heróis. E somos.