Marisa Matias quer uma “Europa de cooperação que ponha a finança na linha”

Catarina Martins esteve esta noite em Leiria para responder a um “mistério”: por que é que Portugal é dos países com salários mais baixos e contas da luz mais altas?

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Catarina Martins e Marisa Matias estiveram em Leiria na noite desta quarta-feira

Extrema-direita, refugiados, sistema financeiro. São vários os temas europeus sobre os quais a cabeça de lista do Bloco de Esquerda às eleições europeias vai falando ao longo do dia. E, mesmo quando em nada parecem relacionar-se, Marisa Matias pega em linha e cose-os. Foi o caso na noite desta quarta-feira: no jantar-comício em Leiria, escolheu o ex-presidente da Comissão Europeia como exemplo de alguém que defende políticas que alimentam os populismos e defendeu mais justiça fiscal.

“Não precisamos da uma Europa das imposições para quem trabalha, mas uma Europa de cooperação para que se ponha a finança na ordem e se tenha recursos para responder pela vida das pessoas”, afirmou a eurodeputada que lembrou que Durão Barroso “andou 10 anos a prometer que regulava o sistema financeiro” e não fez “nada”.

Por isso, no discurso, não deixou de se mostrar espantada com as “aulas” que vê “agora” Durão Barroso, que foi trabalhar para o “pior banco do mundo, o Goldman Sachs”, dar sobre “como se deve combater o populismo”. Para Marisa Matias, “os fascismos não nascem do nada”. Alimentam-se de crises, pobreza, desigualdades, injustiça, concentração da riqueza.

Depois de ter dado como exemplo de vitória dos interesses financeiros o chumbo no Parlamento Europeu de propostas para acabar com a venda de armamento a países em conflito, a eurodeputada considerou uma “vergonha” que os mesmos países da União Europeia se recusem a receber, depois, quem foge dessas guerras.

Foi “contra o bloco central de interesses” que “tem alimentado o crescimento da extrema-direita e dos fascismos na Europa” que Marisa Matias falou em Leiria. “A extrema-direita não se combate com o grande bloco central dos mesmos”, disse, sublinhando que as “políticas que liberais e socialistas têm apoiado” constituem “respostas ao sistema financeiro e não às pessoas”.

A candidata lamentou que, nos anos da crise, que custaram “salários”, “pensões” e casas “a tanta gente”, “36% do PIB Europeu” tenha sido usado para resolver problemas da banca. Marisa Matias defende o fim dos paraísos fiscais na União Europeia e não vê com bons olhos que se reduza a carga fiscal nas grandes empresas, carregando em quem trabalha. A bloquista quer “mais justiça fiscal” e um Banco Central Europeu que “responda pelo emprego e não pela finança”: “A resposta à extrema-direita passa mesmo pela justiça fiscal”, afirmou, não sem lamentar, antes de iniciar a intervenção, o acidente que envolveu Pedro Santana Lopes e Paulo Sande, da Aliança, a quem desejou “rápida recuperação”.

Energia

Já a coordenadora do partido, Catarina Martins, centrou o discurso no “passo que o Parlamento deu para tentar responder a um dos maiores mistérios da Europa”: por que é que Portugal tem dos salários mais baixos e das contas da luz mais altas?

O “passo” a que se refere é a aprovação do relatório final da comissão às rendas da energia, elaborado pelo bloquista Jorge Costa que, ainda assim, viu ficar de fora do documento o polémico tema das barragens. Mas o que Catarina Martins salientou é que o relatório responde à tal pergunta misteriosa: é “à custa dos consumidores” e de “rendas de privilégio” que se cobram facturas da luz tão elevadas em Portugal. Agora, avisa a coordenadora, é preciso transformar “as recomendações que acabam com as rendas excessivas” em lei.

No discurso, não faltaram, claro, os incentivos ao trabalho que a candidata tem feito em Bruxelas, enfrentando “os poderosos”, a “máfia do sistema financeiro”: “[Marisa] disse a Durão Barrosos, [Christine] Lagarde e a [Jean-Claude] Juncker tudo aquilo devem ouvir por terem andado a assaltar quem vive do seu trabalho com os seus esquemas financeiros”, afirmou Catarina Martins, lembrando que “quem menos tem está sob ataque no país e na Europa” e que o BE já deu provas de ser capaz “de fazer as transformações necessárias”.

Berardo: anedota ou sintoma?

Mas o grande apelo ao voto no BE viria pela voz de um dos fundadores do partido, Fernando Rosas: “Vamos por a Marisa e o Zé Gusmão no Parlamento Europeu!”. Insistiu: “Estes dois vamos ter de os meter lá!”.

Também o historiador lançou uma pergunta no discurso que fez: “[Joe] Berardo é uma anedota que todos os partidos do leque político praticam como se nada fosse com eles ou sintoma do processo de acumulação do capital em Portugal?” E deu a resposta: é um sintoma da “acumulação parasitária”.

O historiador não se coibiu de defender que o BE tem tentado, no quadro da actual solução governativa, responder a algumas das “situações mais escandalosas” do sistema, seja com propostas para combater as rendas na energia, os lucros no sector imobiliário ou o negócio das Parcerias Público-Privadas na saúde. Mas, em todos estes aspectos, lamentou, o PS acabou por recuar. Fernando Rosas haveria de terminar o discurso como começou, com uma interrogação, lançada ao país e à Europa: “Onde é que está o PS de esquerda? A esquerda do PS?”.

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