“Não estava de bico calado”, garante director de risco da Caixa Geral de Depósitos
Vasco D’Orey, antigo director do Departamento de Risco da Caixa, diz que redigiu pareceres, mas decisão final era dos administradores.
Dos principais créditos que causaram perdas à Caixa Geral de Depósitos (CGD), 13 tinham parecer desfavorável da Direcção-Geral de Risco (DGR) e 80 tinham um parecer condicionado. Tendo como base estes dados, Vasco D'Orey garantiu esta quinta-feira aos deputados da comissão de inquérito à CGD que tudo fez para proteger o banco. “Vai fazer-me justiça que eu não estava de bico calado”, pediu aos deputados sobre a sua actuação nos conselhos alargados de crédito, onde estes empréstimos foram discutidos e aprovados.
Aos deputados da comissão de inquérito, Vasco D'Orey, o responsável pela DGR da CGD entre 2001 e 2010, referiu por mais do que uma vez que a sua direcção não tinha capacidade de decisão no conselho alargado de crédito e que essa estava do lado dos administradores: “Quem é administrador tem de ter a liberdade de fazer o que entende”, disse.
O que os parlamentares tentavam perceber era se os administradores tinham de se justificar quando iam contra o parecer da direcção de risco, uma vez que há várias interpretações sobre uma norma interna. A EY, a consultora que fez a auditoria que revelou os principais créditos ruinosos da CGD, considera que sim, que estes precisavam de apresentar uma justificação, mas esta leitura não é consensual.
Vasco D'Orey não respondeu directamente à questão, defendendo apenas que os administradores têm algum grau de liberdade e que a direcção a que pertencia não tinha capacidade de decisão, apenas de influência. “Os senhores já falaram, agora nós decidimos”, disse dando como exemplo do que se passava numa reunião do conselho alargado de crédito. “Os membros do conselho têm de ser soberanos na sua actuação, mas o que espera é que haja um escrutínio independente”, acrescentou.
Apesar de não ter capacidade de decisão, Vasco D'Orey defende o seu papel e diz que não ficava calado, alertando para os riscos de determinados créditos nos pareceres que fazia, mas que chegava a um ponto em que estava “fora” das suas “mãos”.
“A comissão de risco não se pode pôr à porta da comissão de crédito com um cartaz a dizer ‘não aprovem este crédito'”, disse, defendendo que tinha limitações e que muitas vezes estava do lado oposto da direcção de crédito. “Por vezes eram decididas a favor do que a área comercial propunha, ao arrepio do risco (...) temos de olhar para o equilíbrio entre os dois. Às vezes vai para um lado outras vezes vai para outro”, afirmou.
Aos deputados, deixou ainda algumas críticas à auditoria da EY, dizendo que esta contém “realidades alternativa” das quais resultaram algumas conclusões.