“Imorais” ou “normais”? Ela quer legalizar os brinquedos sexuais na Tailândia

Na Tailândia, quem comprar, publicitar ou possuir sex toys pode ser preso. Para legalizar vibradores e dildos, Nisarat Jongwisan lançou, há cerca de um ano, uma petição que conta com cerca de 2400 assinaturas. Mesmo que não consiga mudar a lei, quer mudar a sociedade.

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Kim Hong-Ji/Reuters

É conhecida como a “capital do sexo”, mas não permite brinquedos sexuais — nem comprar, nem publicitar, nem possuir. Não é novidade: a proibição também existe na Índia e Arábia Saudita e em alguns estados norte-americanos. No Alabama, por exemplo, é permitido vender e comprar armas, mas nunca um sex toy. “Torna os adolescentes obcecados por sexo”, “apenas é usado por pessoas com sida ou doenças mentais”, é “imoral” e “aumenta o número de crimes sexuais”: estes são alguns dos argumentos utilizados pelas autoridades tailandesas para justificar a secção 287 do Código Criminal Tailandês.

Mas os argumentos não convenceram Nisarat Jongwisan, de 30 anos, nascida em Banquecoque, que lançou, há cerca de um ano, uma petição para legalizar dildos e vibradores no país. A activista começou a interessar-se por “prazer sexual” desde o início da adolescência e foi na pornografia que descobriu os brinquedos sexuais. “Os sex toys são normais? Ou sou esquisita por querer ter um?”, questionou-se. Afinal, “nunca tinha ouvido nada de alguém que tivesse um”, escreve ao P3. 

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Nisarat Jongwisan tem 30 anos e lançou uma petição para legalizar os brinquedos sexuais na Tailândia DR

Nisarat tinha 19 anos quando foi de férias com os pais para o Japão e se “escapuliu do hotel” para comprar o seu primeiro brinquedo. De volta à Tailândia, não teve a mesma facilidade: “Preços altos, materiais não seguros que provocavam alergias, embalagens velhas e sujas — ou inexistentes (alguns brinquedos vinham apenas num saco de plástico)”, refere. A falta de salubridade dos produtos provocou-lhe uma infecção vaginal — mas a quem queixar-se? “Não posso processar ninguém, não posso queixar-me a uma empresa, não posso fazer nada”, atira a activista. 

Não podia sequer partilhar a frustração com os amigos porque o tema é tabu no país. O uso de brinquedos está associado a pessoas com problemas de saúde mental ou doenças sexualmente transmissíveis e é “imoral” falar sobre prazer sexual — as televisões censuram até os mamilos dos desenhos animados. E a lei prevê uma pena que pode ir até aos três anos de prisão para aqueles que forem encontrados com sex toys. “Por isso, tento que ninguém saiba que eu tenho montes deles.”

Três meses na Austrália, em 2014, fizeram-na “mudar o ponto de vista": depois de adquirir brinquedos com garantia e possibilidade de devolução, não quis mais comprar os “ilegais e inseguros”, vendidos na Tailândia. “Sentia-me revoltada e miserável”, conta. E foi assim que começou a “falar abertamente do assunto com amigos activistas”, que a ajudaram a dar os primeiros passos na luta pela causa. 

A petição foi um deles: apesar de na página estar estabelecido o objectivo de 2500 assinaturas, Nisarat admite que precisa de “muitas mais”, uma vez que “o Governo não leva o assunto a sério”, por acreditar que “apenas um pequeno grupo de pessoas usa brinquedos sexuais”. As assinaturas querem mostrar o contrário: “Apesar de não terem qualquer poder para obrigar o Governo a mudar a lei, as assinaturas podem mostrar que há um problema e que muitas pessoas apoiam a legalização de sex toys”, explica. “Mesmo que não os usem.”

E ainda que a petição não surta qualquer efeito legal, a activista quer mudar a perspectiva da sociedade acerca do tema. Acredita que depois de ter levado o tema para discussão pública — num programa televisivo, para o qual foi convidada — as pessoas começaram a discuti-lo com uma “melhor atitude”. “Até contrataram um especialista em sexo para falar [no programa] sobre a legalização dos sex toys.” Por isso, acha que os tailandeses estão a entrar “no caminho certo”. “Simplesmente deixem quem quer tê-los, ter. Fácil e simples”, remata.

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