Uma semana depois do apagão histórico, a Venezuela está de novo às escuras
Mais de uma dezena de estados e vários bairros de Caracas reportam falhas de electricidade. Maduro volta a apontar o dedo à oposição.
A Venezuela voltou a sofrer um apagão, apenas uma semana depois de a electricidade ter sido restabelecida em todo o país após a pior crise energética das últimas décadas. O Governo de Nicolás Maduro voltou a atribuir as falhas de electricidade a actos de sabotagem com motivação política.
Na segunda-feira à noite, pelo menos 14 estados diziam estar a sofrer falhas de electricidade, bem como grande parte da área metropolitana de Caracas, segundo o El Nacional.
O novo apagão afectou zonas que estavam ainda a recuperar dos efeitos da falha de electricidade no início do mês que durou vários dias e deixou infra-estruturas vitais, como hospitais e transportes públicos, praticamente sem funcionar. Mais de 20 pessoas morreram por causas relacionadas com o apagão, segundo organizações próximas da oposição.
Em Caracas, onde a electricidade começou a falhar ao início da tarde, repetiram-se as cenas caóticas de há duas semanas, com milhares de pessoas a andarem quilómetros para chegar às suas casas ou aos empregos – algumas linhas de metro deixaram de funcionar.
O Governo voltou a justificar as falhas com um “ataque” contra o sistema de produção de energia e apontou o dedo à oposição liderada pelo presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, que é reconhecido por meia centena de países como Presidente interino do país.
“A intenção deste Estado-maior do terrorismo é persistir nas suas acções agressivas de estrangulamento financeiro”, disse o ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez, numa declaração televisiva. Segundo o Governo, tal como no início do mês, os problemas energéticos têm origem na central hidroeléctrica de Guri.
Guaidó afirmou que o problema teve origem num incêndio numa linha de alta tensão.
A Venezuela sofre há vários anos com problemas na rede eléctrica e os apagões são recorrentes. Apesar de ser um dos maiores produtores de petróleo do mundo, as infra-estruturas de produção e distribuição de electricidade estão ultrapassadas, e o desinvestimento tornou-se mais grave à medida que a crise económica que se abateu sobre o país nos últimos anos progrediu.
Na semana passada, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, disse que os apagões sucessivos na Venezuela “simbolizam os problemas de infra-estruturas que o país enfrenta”.
A nova crise energética tem o potencial de agravar a tensão política no país, que desde o início do ano vive um confronto institucional sem precedentes – em que o regime de Maduro enfrenta uma disputa pela legitimidade por parte da oposição de Guaidó. A detenção do chefe de gabinete de Guaidó, Roberto Marrero, acusado pelo Governo de chefiar uma conspiração para assassinar Maduro, é apenas o mais recente episódio desta crise.