DUP volta a falar com May para desenterrar o acordo do “Brexit”
Unionistas da Irlanda do Norte e Governo britânico encetam “diálogo construtivo” para tentar aprovar acordo da primeira-ministra, que na próxima semana vai a votos, no Parlamento, pela terceira vez.
Discutir sobre o que já foi discutido e renegociar o que já foi renegociado tornou-se no novo normal no Reino Unido, fruto da situação de impasse em que o processo do “Brexit” se arrasta, há vários meses, e que se aprofundou, esta semana, com a maratona de votos no Parlamento britânico. Por isso mesmo, Governo e Partido Unionista Democrático (DUP) encetaram esta sexta-feira nova ronda de conversas para tentar aprovar – até dia 20 – um acordo que já foi rotundamente chumbado por duas vezes e impedir um adiamento prolongado do “Brexit”.
O vice-líder e deputado dos unionistas da Irlanda do Norte Nigel Dodds deslocou-se a Downing Street para uma série de reuniões, que contaram com a participação de dois pesos pesados do executivo de Theresa May: Geoffrey Cox, procurador-geral, e Philip Hammond, ministro das Finanças.
“Sempre dissemos que queremos um acordo. Mas tem de ser o acordo certo”, defendeu Dodds, no final do encontro, elogiando o “diálogo amigável e construtivo” e colocando, sem abrir o jogo, a pressão no lado de May. “Tudo vai depender do que o Governo estiver disposto a fazer para nos dar garantias que aliviem as nossas preocupações”.
A par da facção eurocéptica do Partido Conservador, os dez deputados do DUP – que sustentam a maioria do Governo conservador na Câmara dos Comuns – têm sido os principais adversários de May na missão de guiar o país para fora da UE, contribuindo abertamente para descredibilizar o tratado jurídico que a primeira-ministra negociou com Bruxelas.
O DUP é, há muito, intransigente na contestação ao backstop – o mecanismo de salvaguarda para evitar uma fronteira física na ilha irlandesa –, por entender que a possibilidade de a Grã-Bretanha e a Irlanda do Norte poderem ser sujeitas a regimes regulatórios diferentes, como consta do acordo, põe em causa a integridade territorial do Reino Unido.
Mas o ultimato apresentado por May, depois de os deputados terem chumbado de novo o seu acordo, rejeitado a saída sem acordo e aprovado o adiamento do divórcio – agendado para dia 29 –, levou o partido a assumir uma posição proactiva na procura de uma solução para desbloquear o impasse e o Governo a redobrar esforços para o convencer a mudar de ideias.
Ciente de que para haver prorrogação do prazo de saída é necessária a autorização dos líderes europeus, que se juntam nos dias 21 e 22 em Bruxelas, a primeira-ministra impôs condições aos deputados: se aprovarem o seu acordo até quarta-feira, solicitará um adiamento do “Brexit” até 30 de Junho; se o voltarem a chumbar, pedirá um adiamento prolongado.
A presença de Cox nas renegociações com o DUP não surpreendeu, por ser o homem certo para prestar as “clarificações” sobre as consequências legais do backstop, exigidas esta sexta-feira pelos unionistas. Mas a de Hammond foi mais inesperada. Exprime, no entanto, a determinação (ou o desespero) do executivo em somar mais dez votos a uma causa chumbada por 230 votos em Janeiro e 149 na terça-feira. E sugere que poderá estar em cima da mesa um qualquer incentivo financeiro.
Os media britânicos recordam que uma das garantias que o Partido Conservador deu ao DUP, para ter o seu apoio em Westminster, após as eleições de 2017, foi a promessa de aumento do investimento na Irlanda do Norte, em 2018 e 2019 – mil milhões de libras extra, segundo o Guardian, dois mil milhões de libras, de acordo com o Independent. O acordo termina em Junho deste ano e a sua renovação é vista como uma arma de negociação que os unionistas podem estar a empunhar.
Dodds assegurou, no entanto, que não discutiu questões financeiras com Hammond e que as conversas se centraram no backstop e no papel do parlamento norte-irlandês no processo: “Não estamos a falar de dinheiro. Isto é sobre o ‘Brexit’ e sobre como vamos proteger o futuro do Reino Unido e o futuro económico e político da Irlanda do Norte”.
Os contactos telefónicos prosseguirão no fim-de-semana e Dodds, que partiu para Belfast para se encontrar com a líder do partido Arlene Foster, prometeu regressar na segunda-feira a Londres, para nova ronda negocial. A terceira votação do acordo de May deverá acontecer na terça-feira.