Barnier quer relação de “amigos, parceiros e aliados” com o Reino Unido no pós-”Brexit”
O negociador-chefe da União Europeia para o "Brexit" afirmou que a não existência de uma “fronteira dura” entre as Irlandas é uma “questão de paz e estabilidade”.
Michel Barnier, o negociador-chefe da União Europeia para o “Brexit”, falou nesta quinta-feira das lições de um divórcio que ninguém sabe como vai acontecer, quando vai acontecer e até se vai mesmo acontecer. No meio de uma semana em que os olhos da Europa apontam para Westminster, Barnier optou por um tom conciliador para sublinhar que o Brexit é “uma situação de perda para ambas as partes”.
Em Bucareste, a capital romena, o francês falou em “consequências enormes” que foram “subestimadas” aquando do referendo britânico. Dezoito meses de trabalho e 600 páginas depois, a conclusão está tirada: “o ‘Brexit’ não acrescenta qualquer valor”. Ainda assim, Barnier fez questão de ressalvar que a “União Europeia não é uma prisão” e que “aderir é uma escolha voluntária”.
Sobre Nigel Farage, eurodeputado do eurocéptico UKIP e um dos rostos pro-"Brexit”, Barnier contou a história de uma reunião entre os dois: “Perguntei-lhe como é que ele veria a relação do Reino Unido com a UE pós-"Brexit” e ele respondeu que depois do “Brexit” não iria existir mais União Europeia”.
Barnier garantiu que a União Europeia nunca partiu para estas negociações com um espírito de vingança ou de punição. Assegura ainda que “mais importante do que o divórcio é o futuro da relação entre os dois blocos”.
O político francês reafirmou que o actual acordo é o único disponível e garantiu que a União Europeia vai trabalhar numa nova relação com um “grande país” no pós-"Brexit”, que espera seja de “amigos, parceiros e aliados”.
Em relação à fronteira entre as Irlandas, que classificou como uma “questão de paz e estabilidade”, Barnier assegura que fez tudo para não se ter de reconstruir uma fronteira física na ilha, entre a Irlanda do Norte (pertencente ao Reino Unido) e a República da Irlanda (estado-membro da UE). Ainda assim, deixou o alerta de que os produtos vindos da Irlanda do Norte têm de ser certificados antes de entrar no mercado único, “para proteger os cidadãos europeus”.
Durante a Cimeira Europeia das Regiões e Cidades, Barnier referiu-se ainda aos cidadãos do Reino Unido que se sentiram “abandonados e excluídos” como causa para a votação pelo “Brexit”, reconhecendo que a União Europeia “não os protegeu”.
O PÚBLICO viajou a convite do Comité das Regiões da União Europeia