Tom Brady e o absurdo hábito de coleccionar títulos

Quarterback dos Patriots é uma absoluta raridade no desporto de alta competição. No domingo, pode ganhar o Super Bowl pela sexta vez.

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Para muitos, Tom Brady é apenas “o marido de Gisele Bündchen”, a conhecida estrela brasileira que deslumbrou com a sua classe nas passerelles. Mas há uma parte do mundo – em particular a América do Norte, Central e Latina, mas também já em muitos locais da Ásia e da Europa – onde Tom Brady é de um dos maiores ícones desportivos de sempre, com feitos apenas comparáveis ao de Cristiano Ronaldo, Michael Jordan ou Tiger Woods.

Para se perceber a dimensão do que Tom Brady está a fazer, aos 41 anos, o quarterback qualificou a sua equipa para o terceiro Super Bowl consecutivo, e nono em 17 temporadas ao serviço dos New England Patriots, emblema grande da NFL (Liga profissional de futebol americano) que conta com cinco Super Bowl no palmarés, todas ganhas sob a batuta deste jogador que nasceu no calor da Califórnia mas encontrou fama e glória no frio do Massachussets.

A receita para todo este sucesso é tão difícil de replicar quanto é difícil identificar onde tudo começou. Mas há pistas.

Brady foi o 199.º jogador seleccionado no draft de 2000, cerimónia onde as equipas recrutam, de uma forma equitativa, os melhores jogadores do campeonato universitário. Cada draft tem sete rondas e, naquele ano, foram escolhidos 254, portanto, não é de estranhar que não recaíssem grandes expectativas sobre o rapaz meio desajeitado da Universidade de Michigan que o treinador Bill Belichick escolheu para suplente. Belichick é uma parte importante da equação Tom Brady, já que foi graças ao seu treinador, por muitos também considerado o melhor de sempre na NFL, que a tal fama e glória tomaram forma.

Faz o que te compete e tudo terás

Disposto a provar que os Patriots estavam certos ao escolhê-lo, Brady trabalhou e aguardou pacientemente pela sua oportunidade. E essa caminhada começou a 23 de Setembro de 2001, quando o então quarterback titular dos Patriots, Drew Bledsoe, foi placado e sofreu uma hemorragia interna. Belichick colocou Brady a aquecer na linha lateral. O resto é história.

Do your job (faz o teu trabalho) é o lema dos New England Patriots, implacáveis nos comportamentos e fiéis ao processo, quer organizacional, quer de jogo, e Brady leva esse adágio ao extremo. Dorme muito, descansa bastante, cuida do corpo, tem um treinador pessoal que o acompanha a toda a hora, não bebe álcool, só come refeições saudáveis e até já lançou um livro sobre o seu método, o TB12 Method, para inspirar outros a alcançarem os seus feitos.

A carreira de um jogador da NFL dura, em média, pouco mais de três anos, mas Tom Brady joga a este nível há 17, todos na mesma equipa, e apenas esteve uma temporada ausente por lesão (2008). É fiel, metódico, obstinado, venerado por uns e odiado por outros, mas aplaudido por tudo aquilo que atingiu em quase duas décadas.

Os títulos que ganhou fazem de Brady, provavelmente, o maior de sempre: é o único quarterback na história da NFL cinco vezes campeão do Super Bowl, estatuto a que junta os prémios de MVP (jogador mais valioso) do Super Bowl em quatro ocasiões e MVP em três temporadas. E amanhã à noite (23h, Eleven Sports 1), pode juntar mais alguns a este currículo absurdo, já que os Patriots partem como favoritos em nova viagem até ao Super Bowl. Uma final jogada em Atlanta, onde vão encontrar os Los Angeles Rams, irreverente equipa liderada pelo jovem Sean McVay, treinador de apenas 33 anos e com uma promissora carreira pela frente.

Mas quer ganhe ou perca essa final, estes tempos pertencem a Brady. Ele é uma máquina da era moderna com um coração que pertence à velha geração (costuma dizer que “o futebol americano é um amor incondicional”). Tal como Ronaldo, o número 12 dos New England Patriots há muito percebeu que para ser eterno são necessários sacrifícios que nem todos estão dispostos a fazer.

* Comentador NFL na Eleven Sports e antigo presidente da Associação Portuguesa de Futebol Americano

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