Portugal vai a Roterdão com Edgar Pêra à cabeça
Programação do festival holandês exibe filmes de Ico Costa, Gabriel Abrantes ou Aya Koretzky, e dedica uma retrospectiva de 21 filmes ao autor de A Janela e O Barão
“Filósofo do som-imagem, performer, rebelde nato, modernista eterno, satirista político extraordinaire” - “um artista que não pode ser definido através de comparações e generalizações fáceis, explicado com símiles simples, engavetado num género ou numa estética”. É assim que o catálogo do festival de Roterdão descreve Edgar Pêra, ao qual dedica na edição 2019, com início no próximo dia 24, uma retrospectiva com 21 títulos entre “clássicos”, “novidades” e “remisturas”.
Pêra é o nome maior de uma presença portuguesa que inclui ainda obras de Aya Koretzky, Ico Costa ou João Vladimiro, depois de no ano passado o certame holandês ter recebido as estreias dos últimos filmes de Susana Nobre (Tempo Comum), Filipa Reis/João Miller Guerra (Djon África) e Teresa Villaverde (O Termómetro de Galileu).
No programa principal, o destaque vai para Ico Costa, que estreou no certame em 2017 Nyo Vweta Nafta, curta que fez um invejável percurso internacional com vários prémios. Na secção Bright Future, o cineasta apresenta em estreia mundial a sua primeira longa de ficção, Alva, rodada inteiramente em exteriores nortenhos e inspirada por faits-divers rurais.
Ainda na secção Bright Future, estreia-se a média luso-brasileira Tragam-me a Cabeça de Carmen M., colaboração entre a actriz Catarina Wallenstein e o realizador Felipe Bragança (co-argumentista de filmes como Girimunho ou Praia do Futuro). Exibe-se igualmente o bonito road movie familiar de Aya Koretzky, A Volta ao Mundo Quando Tinhas 30 Anos (estreado no Doclisboa 2018), bem como Introduzione all’oscuro, a homenagem do argentino Gastón Solnicki ao falecido director da Viennale Hans Hurch, com fotografia do português Rui Poças.
No concurso de curtas Ammodo Tiger está o telúrico Anteu de João Vladimiro, criado com Gonçalo M. Tavares e oriundo de Vila do Conde 2018. A secção de curtas Voices Short mostra Casa de Vidro de Filipe Martins, que estará posteriormente a concurso em Clermont-Ferrand; no programa Deep Focus, exibe-se Sombra Luminosa da dupla Mariana Caló/Francisco Queimadela, estreado no IndieLisboa 2018; e a secção Perspectives mostra a aclamada longa de estreia de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, Diamantino.
Mas é Edgar Pêra, “alma inquieta profundamente impaciente com a sua própria obra”, que “compreende o cinema como uma experiência gigante, contínua e imparável que o cineasta leva a cabo com a ajuda do seu público”, que está este ano na berlinda.
A retrospectiva que lhe é dedicada, longe de ser integral, traz novidades. Primeira: a sua mais recente longa de ficção Caminhos Magnétykos, que teve estreia no LEFFEST. Segunda: o seu cine-concerto criado com Paulo Furtado para o MOTELX com inspiração dos escritos de H. P. Lovecraft, LoveCraftLand. Terceira: o work-in-progress KINORAMA - Cinema Fora de Órbita, filme-ensaio ainda em criação que funciona como sequela do seu filme-tese O Espectador Espantado e para o qual será solicitada a colaboração do público holandês.
Indo mais fundo no extenso catálogo de Pêra, Roterdão exibe as três longas mais “convencionais” do cineasta - A Janela (Maryalva Mix), O Barão e Virados do Avesso - a par de documentários mais ensaísticos e experimentais como Manual de Evasão LX 94, Lisbon Revisited e O Homem-Pykante: Diálogos com Pimenta. A retrospectiva completa-se com os três programas temáticos de curtas, algumas das quais apresentadas em versões “remisturadas”. Para lá de Early Works, que reúne cinco filmes da década de 1990, haverá Visions in Concrete and Stone, incluindo filmes sobre arquitectura como Reproduta Interdita ou A Cidade de Cassiano, e Where the Masses Chant, sobre os fenómenos de massas, abrange do 25 de Abril (Uma Aventura para a Demokracyia) ao futebol (És a Nossa Fé).
O festival de Roterdão corre de 23 de Janeiro a 2 de Fevereiro.