Mãe, o Pai Natal existe mesmo?
Geralmente são os adultos que ficam demasiado preocupados com o impacto que a desmitificação da fantasia do Pai Natal pode ter nos filhos.
A fantasia é necessária para viver bem a infância. Nesta fase, há lugar para as fadas, os gnomos, as bruxas e outras figuras que devem fazer parte do imaginário infantil. O Pai Natal faz parte da crença habitual da maior parte das crianças antes dos 8 anos de idade, aproximadamente.
Esta fantasia é uma das que mais estimula a capacidade criativa e simbólica, na infância, sendo a magia do Pai Natal vivida intensamente pela maior parte das crianças. Ora o prazer e a alegria são fundamentais para um adequado desenvolvimento da afetividade na criança.
Depois, a criança vai intuindo pouco a pouco, ou acaba por saber por alguém que lhe diz, que o Pai Natal não existe, é fantasia.
Não conheço ninguém que tenha ficado “traumatizado” ao saber a verdade, porque a infância é mesmo assim, a transição gradual de um estado de fantasia que cada vez mais, e de forma progressiva, se vai aproximando da realidade.
Este processo desenvolve-se de uma forma natural nas crianças, sem dificuldades de maior. Geralmente são os adultos que ficam demasiado preocupados com o impacto que a desmitificação da fantasia do Pai Natal pode ter nos filhos, mas devem encarar a situação como o normal processo de amadurecimento, inerente ao desenvolvimento da criança.
A existência de um mundo imaginário na infância – tal como quando a criança se diverte a brincar a fazer de conta que é mãe ou pai, pirata, polícia ou ladrão, fada com varinha de condão, super-homem, cozinheiro, dono de loja, jogador de futebol – é crucial para um harmonioso desenvolvimento psíquico, cognitivo e social. Trocando por palavras simples, “a fantasia ajuda a crescer”.
Também não conheço ninguém que tenha ficado “traumatizado” ao perceber que afinal não existem fadas, nem feijões mágicos, nem dragões que cospem fogo.
Da mesma forma que os pais podem dizer aos filhos, a partir de uma certa idade, que estas figuras são uma criação maravilhosa mas imaginária, também podem dizer o mesmo a respeito do Pai Natal. Por exemplo, “filho/a, quando eras mais pequeno acreditavas em fadas, super-heróis, tal como os teus amigos, mas agora que és mais crescido, já podes saber que fazem parte da imaginação. No entanto, vou pedir para não dizeres ao teu irmão, que ainda é pequenino, para ele ficar deslumbrado com esta fantasia, tal como aconteceu contigo”.
Os adultos habitualmente conservam dentro de si as memórias desta época mágica natalícia que viveram na sua infância e tendem a reproduzi-la junto dos seus filhos e de outras crianças, passando o testemunho de uma geração para a seguinte.
Durante toda a sua existência, a capacidade de sonhar e fantasiar fazem parte do pensamento humano, a par e passo com a sua capacidade intelectual racional. Vide o sucesso que têm livros, filmes, peças de teatro, ballets, óperas, baseados em histórias de figuras imaginárias.
Como dizia Rómulo de Carvalho, que aliava a sua formação académica em físico-química com a poesia: “Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida, tão concreta e definida, como outra coisa qualquer…”