Netflix, Airbnb e outras empresas tiveram acesso especial a dados do Facebook

Documentos e emails da rede social foram revelados pelo Parlamento britânico.

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Em 2018, Mark Zuckerberg foi obrigado a justificar as estratégias de privacidade da rede social LUSA/MICHAEL REYNOLDS

O Facebook deu a várias empresas acesso especial a dados dos utilizadores. Entre elas estavam o Netflix, o Airbnb, a Lyft, uma aplicação de viagens semelhante à Uber.

A informação surge num documento de 250 páginas publicado pelo Parlamento britânico que inclui documentos internos do Facebook e emails enviados pelo presidente, Mark Zuckerberg. Fazem parte de uma investigação sobre o papel da rede social na disseminação de notícias falsas e sobre más práticas de privacidade.

“Sentimos que não têm existido respostas concretas do Facebook sobre estes assuntos importantes, e é por isso que estamos a publicar os documentos”, justificou o deputado Damian Collins, responsável pelo processo, em comunicado. No Twitter, onde partilhou os documentos, escreveu que “é necessário um debate público sobre os direitos dos utilizadores das redes sociais e os direitos das pequenas empresas que têm de trabalhar com os gigantes da Internet.”

Em Junho, uma notícia do jornal Wall Street Journal já tinha alertado para a existência de acordos especiais com várias empresas em relação aos dados dos utilizadores. 

Em comunicado, um porta-voz do Facebook nota que a informação está a ser publicada de “forma enganosa sem contexto adicional.”

Os documentos foram inicialmente recolhidos pela empresa de tecnologia Six4Three, que processou o Facebook em 2015. A empresa tinha criado uma aplicação, que já não existe, para procurar fotografias de biquíni entre os contactos do Facebook. Na altura, acusou a rede social de criar práticas anticoncorrenciais que favoreciam algumas empresas em detrimento de outras. 

O Facebook diz que a informação está desactualizada. “Como dissemos várias vezes, os documentos obtidos pela Six4Three para o seu caso sem fundamento são apenas uma parte da história”, lê-se no comunicado enviado pelo Facebook à imprensa. “Continuamos a defender as alterações que fizemos à plataforma em 2015 para impedir uma pessoa de partilhar os dados dos seus amigos com programadores. Como qualquer empresa, tivemos várias conversas internas sobre as formas de ter um negócio sustentável. Mas os factos são claros: nunca vendemos os dados das pessoas.” 

O PÚBLICO questionou o Facebook sobre o contexto em falta na história. Em resposta, a equipa da rede social disse que não há nada a acrescentar além do comunicado. 

Os documentos divulgados pelo Parlamento britânico incluem uma lista de aplicações que tinham autorização do Facebook para aceder à lista de contactos dos utilizadores, e ainda vários emails internos da rede social, incluindo de Mark Zuckerberg. As mensagens mostram que há muito que a multinacional discutia a melhor forma de trabalhar com programadores e quais os dados que deviam ser divulgados.

“Estou a começar a gostar da ideia de bloquear às aplicações móveis algumas partes da plataforma, incluindo dados sobre amigos e potencialmente o contacto de email”, lê-se num email de 2012 de Mark Zuckerberg a Sam Lessin, o vice-presidente de produto do Facebook na altura (Lessin não trabalha na empresa desde 2014). “Estou céptico que exista um risco estratégico de perda de dados tão grande como pensas. Concordo que existe um risco claro do lado do anunciante, mas ainda não descobri como é que isso está conectado ao resto da plataforma”, escreveu Zuckerberg. “Não consigo pensar em casos em que dados tenham passado de programador para programador e causado um problema real para nós.”

Teria de esperar seis anos. Desde o escândalo com a consultora Cambridge Analytica, que estalou em Março, que Mark Zuckerberg tem sido obrigado a justificar as políticas postas em práticas pela rede social. Foi revelado que dados de mais de 87 milhões de utilizadores do Facebook foram usados indevidamente pela empresa para auxiliar várias campanhas políticas em todo o mundo (incluindo o referendo ao Brexit e a eleição de Donald Trump em 2016).

Em 2018, Zuckerberg esteve no Parlamento Europeu e no Congresso nos EUA para dizer que estava a investigar a fundo a forma como a rede social tem utilizado os dados dos seus utilizadores. Nos últimos meses, o site foi obrigado a suspender várias empresas análise de dados da sua plataforma, suspeitas de partilhar indevidamente informação de utilizadores.

Esta semana, como parte dos esforços para a rede social ser mais transparente, o Facebook começou a enviar emails a utilizadores portugueses que gerem páginas na rede social (por exemplo, com informação sobre um pequeno negócio ou actividade) a explicar que as pessoas que as visitam vão começar a ver de onde é que páginas são geridas. A medida, que já tinha sido lançada noutros países, foi anunciada em Abril. “O nosso objectivo é impedir que organizações e indivíduos enganem as pessoas sobre quem são e sobre aquilo que estão a fazer”, afirmou a empresa na altura.

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