Perguntas e Respostas
Como identificar e combater as “fake news”? Cinco perguntas, cinco respostas
Nos Estados Unidos e no Brasil, as “fake news” tornaram-se armas políticas. Em Portugal, as autoridades já estão atentas.
O fenómeno das “fake news” ou manipulação ganhou relevo com as eleições nos EUA e a alegada influência russa na vitória de Donald Trump ou ainda no referendo ao “Brexit”.
O Parlamento Europeu quer tentar travar estes fenómenos nas eleições europeias de 2019 e, a 25 de Outubro, aprovou uma resolução na qual defende medidas para reforçar a protecção dos dados pessoais nas redes sociais e combater a manipulação das eleições, após o escândalo do abuso de dados pessoais de milhões de cidadãos europeus.
O que são “fake news”?
Na tradução literal do inglês significa “notícias falsas”, embora esta definição, para os jornalistas, seja uma contradição: se for mentira ou falsificada (outro significado de “fake”), não é notícia. Em alternativa, pode também dizer-se “informações falsificadas”, conceito que remete para manipulação.
Os franceses, por exemplo, optaram pelo termo “infox” (amálgama de informação e intoxicação), lê-se numa entrada do Ciberdúvidas, site do jornalista José Mário Costa, que tem um consultório e é um espaço de debate e esclarecimento sobre a Língua Portuguesa.
Qual a diferença entre “fake news” e notícias erradas?
As notícias erradas são resultado de um erro ou uma inexactidão não intencional da parte de um jornalista, enquanto as “fake news” são informações falsificadas com fins políticos, económicos ou outros.
Como se propagam?
Através das redes sociais, Twitter, Facebook ou por aplicações mais fechadas como o Whatsapp. Há sites dedicados a notícias falsas, sediados em países europeus, mas com o IP registado no Texas, por exemplo, de onde partiram centenas de “notícias” manipuladas. Em alguns casos, esses sites têm uma aparência e siglas idênticas aos dos media reais.
Como se conseguem identificar as “fake news”?
O Facebook tem uma espécie de guia, em dez passos, que ajuda a identificar notícias falsas durante um período eleitoral. Os conselhos passam por desconfiar de manchetes muito apelativas, verificar a fonte da suposta notícia ou por procurar reportagens sobre o mesmo tema e culmina com o apelo para o leitor pensar “de forma crítica” o que se lê, seja em sites ou nas redes sociais.
Há vários sites que se dedicam a verificar a informação, entre eles o Bellingcat, o CrowdTangle ou o FactCheck.org, para a política americana, ou ainda a agência Lupa, no Brasil. Em Portugal, foi anunciado na semana passada, durante a cimeira de tecnologia Web Summit, um “site” português para o efeito, o Polígrafo.
O que está a ser feito para combater o fenómeno?
Na sequência do escândalo da Cambridge Analytica, que utilizou uma aplicação para recolher dados de milhares de utilizadores do Facebook, o Reino Unido multou a empresa fundada por Mark Zuckerberg em 500 mil libras (560 mil euros), trazendo o problema da manipulação para a agenda política e mediática.
Na Europa, foram anunciadas, nos últimos meses, uma série de iniciativas. A 25 de Outubro, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução em que apela aos Estados-membros da União Europeia (UE) a “adaptarem as regras eleitorais às campanhas online, como as regras relativas à transparência sobre o financiamento, os períodos de reflexão, o papel dos meios de comunicação social e a desinformação”.
A Comissão Europeia também publicou um código de boas práticas, em vigor desde Outubro, que prevê um acordo com várias plataformas electrónicas.
Em Portugal, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) está a preparar iniciativas-piloto com o Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS) para tentar minimizar o fenómeno da desinformação nas eleições europeias e legislativas de 2019, em Portugal. E o Parlamento está também empenhado em lançar o debate sobre o tema.