Do spa premiado à comida portuguesa a pensar nos estrangeiros
Perto de Albufeira fica o resort Pine Cliffs Resort, com um spa recentemente reconhecido a nível mundial e uma dezena de restaurantes, incluindo um supper club.
A sala é toda de mármore cinzento, as paredes, o lavatório e a mesa de massagem que fica mesmo no meio, mas nada é frio ou inóspito, pelo contrário, o vapor mantém-na quente e acolhedora q.b. A proposta é que façamos o tratamento Hammam naquele que foi eleito, esta semana, o melhor resort spa de Portugal: o Serenity Spa no Pine Cliffs, em Albufeira.
À entrada do spa está uma placa que lembra o prémio ganho em 2017. Na sexta-feira, dia 26 de Outubro, nas Maldivas, o Serenity, aberto há dois anos, conquistou o segundo galardão dos World Spa Awards — o de melhor resort spa de Portugal. Já este ano tinha ganho o prémio de Melhor Destino de Spa de Luxo de Portugal e o Melhor Spa de Bem-Estar de Luxo da Europa. Também a sua directora, Maria d’Orey, há um ano recebeu o prémio de Melhor Gestora de Spas em Portugal.
Há muito espaço no Serenity e um corredor com 13 salas de massagem a comprová-lo. Salas com duche incorporado; salas com luz natural para tratamentos como limpezas de pele ou manicure, por exemplo; uma sala com uma cama com ar e água especialmente pensada para tratamentos com envolvimentos; uma sala com uma decoração diferente, pensada para massagens e tratamentos orientais como o reiki; e uma sala privada de massagens que é uma espécie de pequeno spa dentro do spa.
A Aurum Suite, assim se chama esta sala, é um espaço onde as paredes pintadas a dourado e o candeeiro com cristais Swarovski dominam o espaço constituído por uma sala de massagens e outra sala com jacuzzi, sauna, banho turco e um duche de experiências incorporado. Esta suíte é “perfeita para os que desejam celebrar um dia especial, surpreender quem mais amam ou simplesmente desfrutar de uma experiência exclusiva no Serenity — The Art of Well Being”, está escrito no menu do spa. Há uma mesinha onde é deixada uma garrafa de champanhe francês, morangos e chocolate. Três horas custam 350 euros.
Chegados ao final do corredor escuro, abre-se uma porta para o azul do Oasis Termal, onde a piscina com fontes e camas de hidromassagem marca o tom. De um lado, a luz natural que entra pelas janelas rasgadas para um pequeno jardim; do outro, o recato do espaço de relaxamento onde estão várias camas, por trás de uma cortina, dando ao espaço a escuridão necessária para descontrair depois de um tratamento ou de uma passagem pelos vários equipamentos que circundam a piscina.
Aqui há uma sala Hammam, que só pode ser usada para tratamentos; um banho turco, duas saunas (uma herbal, com essência de eucalipto que chega aos 62ºC, e outra com sal dos Himalaias, que pode estar a 80ºC), uma fonte de gelo, três duches sensoriais, um tanque Kneipp (com um pequeno circuito de água quente e fria ideal para pernas cansadas) e jacuzzi exterior. Este circuito pode ser feito em qualquer altura do dia e por clientes de fora do resort, tal como acontece com os tratamentos.
E voltamos à sala Hammam, onde já estávamos deitados na mesa de massagem e envolvidos em vapor que chega aos 50ºC. Aqui a proposta é a de um tratamento com origem turca mas cuja adaptação feita pelos marroquinos é a que se pratica no Serenity. A terapeuta Catarina explica que na Turquia tudo se secciona — os vapores fazem-se numa sala, o banho noutra — e aqui tudo decorre da mesma forma. Primeiro um duche, de seguida o envolvimento do corpo com o black soap, feito à base de eucalipto, um óptimo adstringente, mas também desentupidor das vias respiratórias. Para os que na década de 1980 eram crianças, o cheiro lembra o Vick Vaporub.
Deitados na cama de mármore, em cima de uma futah, a toalha marroquina que inundou as praias portuguesas, são dez minutos de banho turco. Carolina vai entrando para ver se continuamos a respirar e para oferecer uma água fresca com limão, que é sempre bem-vinda. Após um novo duche que limpa todo o sabão, a magia acontece: a terapeuta começa a passar uma luva pelo corpo, e a pele morta cai na toalha. A passagem da luva é violenta e faz-nos imaginar o esfregão verde e o lavar dos tachos. Novo duche e a derme acalma com uma espuma hidratante que vai caindo no corpo e se cola à pele. O tratamento chegou ao fim. É preciso levantar muito suavemente e sair de roupão vestido para a zona de relaxamento. Os 15 minutos propostos por Catarina para descansar prolongam-se porque não apetece sair dali, onde a água da piscina é música de fundo.
Um supper club espanhol onde se come português
Anoiteceu e por entre os vários restaurantes do resort — são dez espaços ao todo, do Zest, onde se come saudável, ao Corda Café, onde a proposta são refeições ligeiras de várias cozinhas do mundo, passando pelo bar da praia e o bar onde se pode beber um cocktail ao início da noite — a proposta é para que experimentemos a cozinha da chef Lúcia Ribeiro no Mimo.
Este é um espaço que fica dentro do resort, no edifício do hotel, mas explorado pela Mimo, uma empresa espanhola cujo CEO é britânico, tal como os principais investidores. Tudo começou em San Sebastián, depois chegou a Sevilha e a Maiorca. O Algarve foi a primeira incursão fora de Espanha e, no próximo ano, chegará a Londres.
O Mimo é várias coisas: um supper club, um espaço onde se pode aprender a cozinhar (há aulas para os mais novos em tempo de férias escolares, por exemplo) ou onde se fazem provas de vinho e uma loja gourmet. “De dia temos aulas e à noite o supper club”, resume Lúcia Ribeiro, que é a responsável pelo Mimo Algarve, ao qual concorreu a partir de um anúncio que viu numa rede social, já não se recorda de qual. No entanto, lembra-se bem de que foi entrevistada por Skype por várias pessoas e conquistou um contrato de head chef. Está a trabalhar desde Maio.
O conceito é do Mimo, mas as receitas são da chef, orgulha-se Lúcia Ribeiro. “Em qualquer das aulas tento sempre pôr guarnições ou pratos portugueses”, diz. E a proposta para a noite em que o PÚBLICO marcou presença é comida portuguesa com um twist. Por exemplo, logo como entrada, Lúcia Ribeiro pensou nas amêijoas à Bulhão Pato, só que fez uma sopa. De seguida pensou usar a cataplana, só que em vez de fazer um prato típico, utiliza-a como um fumeiro para cozinhar cavala. Depois, para o prato principal, a cozinheira reinterpretou um prato típico algarvio, a galinha cerejada, mas com uma terrina de batata confitada com cebola caramelizada. Por fim, para sobremesa, Lúcia Ribeiro foi buscar uma receita de família, uma torta de amêndoa cujo twist é o crumble de alfarroba e um gelado de gengibre e baunilha.
Tudo é feito à frente dos convivas. Há uma bancada em meia-lua com quatro fogões e a finalização dos pratos é toda feita no momento. Começamos pela sopa, que, com a ajuda do sommelier Cristiano — para cada prato há um vinho nacional para provar, começamos num verde do Minho e terminamos com um Douro do Porto, tendo passado pelo Alentejo e pelo Dão —, a chef vai montando nos pratos, apresentando-os e dispondo-nos à frente de cada um dos clientes.
Há um casal que experimenta pela segunda vez a cozinha de Lúcia Ribeiro, no intervalo de um mês — os pratos são diferentes, assim como os vinhos, congratulam-se. “Esta é uma experiência íntima, diferente, personalizada, em que a pessoa não tem de escolher e, por isso, dentro do resort há muita gente que repete. Vem porque é diferente de ir ao restaurante”, declara Lúcia Ribeiro, ao final da noite. Além disso, há uma preocupação em inovar, reconhece a chef, que viveu e trabalhou em Londres durante 15 anos, antes de regressar ao seu Algarve.
Tendo crescido no Reino Unido e passado pelas cozinhas de alguns chefs de renome, Lúcia Ribeiro fala inglês com grande desembaraço e está sempre pronta para contar uma história, seja do prato que vai apresentar, do vinho que vamos provar ou da sua vida nas cozinhas londrinas onde as mulheres, “como cá”, não têm a vida facilitada, lamenta. “Porque há [tão poucas] mulheres com estrelas Michelin?”, questiona, para logo de seguida declarar de forma positiva que é preciso continuar a lutar.
Sempre num tom divertido, a cozinheira vai fazendo o seu trabalho e, mal põe um prato à nossa frente, volta para a sua bancada para limpar e arrumar tudo, antes de passar à confecção do prato seguinte. Quando terminamos a sobremesa, a bancada está sem uma mancha e a maior parte da louça arrumada nas estantes, graças ao copeiro. Ao todo são três pessoas a trabalhar, mas podem ser mais quando a mesa fica mais preenchida. No total, Lúcia Ribeiro pode servir o jantar a 14 pessoas. “Cada vez vêm mais pessoas de fora [do resort], mas 70% a 75% são daqui”, diz. “O intuito é fazer experiências gastronómicas em que as pessoas aprendam sobre as nossas tradições e o nosso vinho”, acrescenta. No futuro, o Mimo quer chegar a Lisboa e ao Porto, que “têm um potencial enorme para uma empresa como esta”, conclui.
O PÚBLICO esteve em Albufeira a convite do Pine Cliffs Resort