Feira inaugura novos murais em roteiro de arte urbana que também inclui Vhils

Das quatro obras que fazem parte do novo percurso temático, duas já decoravam espaços do concelho há alguns anos.

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Obra de Vhils em Santa Maria da Feira ADRIANO MIRANDA

A Câmara de Santa Maria da Feira inaugurou nesta quarta-eira os murais que venceram o concurso de arte urbana para criadores do Norte de Portugal e Galiza, iniciando assim um roteiro local que já integra uma obra de Vhils.

Das quatro obras que fazem parte do novo percurso temático, duas já decoravam espaços do concelho há alguns anos e outras duas são novas, resultando do concurso de street art promovido pela autarquia, no âmbito da iniciativa que reconhece Santa Maria da Feira como Capital da Cultura do Eixo Atlântico em 2018.

"Quisemos dar esta oportunidade a jovens artistas com idade inferior a 30 anos e, entre as 20 propostas que recebemos, escolhemos duas que ajudam a promover uma outra percepção do espaço público, não só na sua componente de paisagem urbana, mas também enquanto obra de arte em si mesmo", declarou à Lusa o presidente da autarquia, Emídio Sousa.

Para o vereador da Cultura, Gil Ferreira, trata-se também de "promover e descentralizar o acesso à cultura urbana", tendo em conta que a street art motiva "um maior envolvimento da comunidade no usufruto do espaço público" e estimula ainda a "aquisição de competências numa expressão artística cada vez mais respeitada" pelo público em geral.

As quatro paragens do novo roteiro pela arte urbana de Santa Maria da Feira representam, nesse contexto, "apenas o ponto de partida" para uma oferta que o vereador quer ver alargada a novos cenários e novos autores, ao longo dos próximos anos.

Para já, o circuito actual arrancou no centro da cidade da Feira, junto à fachada da Câmara Municipal: é aí que o artista conhecido como Vhils (e cujo nome real é Alexandre Farto) exibe, desde 2014, um diorama em cortiça retratando o rosto de um operário sénior dessa que é a principal indústria do concelho.

O ponto seguinte do percurso foi o Empreendimento Habitacional do Balteiro, também na freguesia da Feira, onde agora se exibe, a toda a altura do prédio intervencionado, uma "escolhedora de cortiça" desenhada pela espanhola Lidia Cao, uma das vencedoras do referido concurso luso-galego "Urbanidades no Eixo".

A autora do mural revelou à Lusa ter demorado uma semana a pintá-lo, e optou por um traço em estilo de ilustração, "em homenagem ao principal sector da economia da Feira e às jovens mulheres que nele trabalham, ainda de forma artesanal".

O roteiro seguiu depois para a freguesia de Santa Maria de Lamas, onde em 2017 os artistas feirenses ORIG1 e TROPIC (pseudónimos artísticos para Tadeu Silva e Pedro Santos, respectivamente) transformaram com cores vivas e lettering camuflado os 280 metros quadrados de uma das fachadas do Cincork - Centro de Formação Profissional da Indústria da Cortiça.

"Inspirámo-nos nas cores quentes da paisagem alentejana [de onde provém a cortiça] e usámos o lettering do Cincork de uma forma em que é preciso quase um jogo mental para ele se perceber", afirma TROPIC. "[Este trabalho] Foi um prazer para mim porque adorava fazer disto a minha vida, mas sei que é uma área complicada e é por isso que agradeço ao Município a aposta que faz nestas 'coisas'", acrescentou ORIG1.

O último destino do percurso pela arte urbana da Feira foi o anfiteatro ao ar livre do Empreendimento Habitacional Xanana Gusmão, na freguesia de Lourosa, onde o segundo projecto a vencer o concurso "Urbanidades no Eixo" também tem autoria de ORIG1.

Ao longe, a pintura confere à construção a aparência de uma parede lisa decorada por bolas de cores garridas; à medida que o espectador se aproxima, a ilusão de ótica vai-se perdendo para dar lugar aos diferentes degraus do anfiteatro.

"Pinceladas, pixéis e luz - tentei simplificar o impressionismo ao máximo", rematou o autor.