Tomar o pulso a milhões
As pulseiras de actividade física geraram uma quantidade de dados inédita sobre o estado geral de saúde da população, que começa agora a ser analisada.
São dados de fazer inveja a qualquer epidemiologista: a norte-americana Fitbit, que comercializa pulseiras que monitorizam a actividade física, analisou 150 mil milhões de horas de batimentos cardíacos dos seus utilizadores e chegou a conclusões sobre o estado dos corações mundiais (ou de quem usa pulseiras de exercício), num estudo partilhado com o portal norte-americano Yahoo.
O indicador-chave medido foi a frequência cardíaca basal (FCB), ou o número de batimentos cardíacos por minuto (BPM) em repouso. É considerado um bom indicador do estado de saúde, existindo uma forte correlação entre valores elevados e o risco de doença (valores entre 50 e 90 BPM são considerados normais).
Segundo um estudo epidemiológico realizado na Dinamarca, uma frequência basal de 80 BPM indica um risco de morte por doença cardíaca duas vezes superior ao de alguém com uma frequência igual ou inferior a 50, e três vezes maior a partir dos 90. Quanto à diabetes, de acordo com um estudo chinês, o risco de doença sobe 23% a cada 10 BPM adicionais.
Cruzando registos cardíacos com outros dados, a Fitbit confirmou que factores como idade e sexo condicionam fortemente a FCB. Um homem de 20 anos tem, em média, uma frequência de 62 BPM, enquanto uma mulher da mesma idade apresenta 67 BPM (o coração menor da mulher obriga a um esforço superior).
Os valores tendem a subir até aos 50 anos, decrescendo a partir dessa idade. A Fitbit arrisca uma explicação: para além da desaceleração do metabolismo, reduz-se a preocupação com filhos e trabalho. Os medicamentos para o coração, que reduzem a FCB, são outro factor explicativo.
A prática de exercício físico é fundamental, e a Fitbit encontrou um valor ideal: 150 minutos de actividade intensa por semana, ou 30 minutos diários, cinco vezes por semana. Mas faz um aviso: concentrar todo o esforço ao fim-de-semana não tem um impacto positivo. Nem concentrá-lo numa corrida matinal, se depois um indivíduo passar o resto do dia no sofá.
Há também uma quantidade ideal de sono: sete horas. Nem mais, nem menos.
Quanto a geografias, os italianos aparentam ser os mais saudáveis, por contraste com os indianos. A Fitbit crê que, para além da dieta e da genética, os europeus são menos dependentes do carro e têm melhores espaços para a prática de exercício.