Joana e António queriam ser pais… mas não foi logo à primeira
Investigadores da Universidade do Porto criam vídeos para ensinar qual o melhor momento para tentar engravidar e quais os factores de risco da infertilidade.
Joana e António queriam muito ser pais. Aproveitavam todos os momentos, mas o que era um prazer, transformou-se numa rotina. Ao contrário dos amigos, com eles não foi à primeira. Em Portugal a infertilidade afecta 10% da população em idade reprodutiva.
Os dois aprenderam que há apenas seis dias em que a fecundação pode ocorrer: o dia da ovulação e os cinco dias que a antecedem. Joana também aprendeu que o seu corpo dá sinais de que está na janela fértil. Joana e António aproveitam agora melhor esses momentos e o que era uma rotina, voltou a ser um prazer.
Joana e António não são de carne e osso, mas contam a história de muitos casais. São os protagonistas do Guia para alcançar a gravidez espontânea, um vídeo criado por uma equipa da Universidade do Porto, que junta investigadores das faculdades de Psicologia e de Ciências da Educação, Medicina e Ciências que trabalham na área de saúde reprodutiva.
O vídeo está disponível na biblioteca virtual do Portal do SNS. É dirigido a casais que estejam a tentar engravidar há menos de 12 meses ou há menos de seis meses se a mulher tiver 35 ou mais anos. Com ele está um outro – Quero ser pai ou mãe no futuro... O que devo saber? –, feito pela mesma equipa multidisciplinar, dirigido a jovens que pensam vir a ter filhos no futuro e que explica quais são os factores de risco da infertilidade.
Mariana Veloso Martins, investigadora na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, diz ao PÚBLICO que começaram a trabalhar no projecto há mais de dois anos. Porquê? “Por um lado, porque a natalidade em Portugal é um problema, por outro porque nos fomos apercebendo que é preciso trabalhar mais na prevenção da infertilidade. É preciso que as pessoas tenham consciência que podem não conseguir ter filhos tão facilmente como pensam.”
Um dos principais factores de risco, explica, “é a idade da mulher”. Assume que é difícil trabalhar esta área quando um dos maiores factores de adiamento da maternidade é o estabelecimento de outras prioridades como a carreira e a estabilidade económica. “Não queremos acelerar a maternidade, nem criar uma pressão psicológica que pode ser maléfica. Mas é preciso que as pessoas tenham consciência das taxas de sucesso e de qual pode ser o seu plano reprodutivo.”
A idade não é o único factor de risco, como ensina um dos vídeos. O stress também é importante, mas mais significativo é o consumo de tabaco, o abuso de bebidas alcoólicas, consumo de drogas, obesidade e excesso de peso, doenças sexualmente transmissíveis e a poluição ambiental.
Percepção errada
Antes de avançarem, a equipa quis saber que percepção tinham os jovens em relação às taxas de sucesso de uma gravidez, quer espontânea quer com recurso a tratamentos de fertilidade. Recorreram a uma amostra de mais de 200 estudantes, aos quais fizeram um inquérito no ano passado. “Percebemos que as pessoas estavam claramente enganadas”, diz a investigadora.
No comunicado em que apresentam os vídeos, falam desses resultados: os jovens acreditam que a probabilidade de uma mulher de 25 anos engravidar se estiver na fase de ovulação é de 85%, quando é de 35%. Também acham que uma mulher de 35 anos que recorre à procriação medicamente assistida tem 60% de probabilidade de engravidar, quando a percentagem real é de 25%.
Os vídeos foram testados em ensaios aleatórios envolvendo mais de uma centena de casais. Mariana Veloso Martins adianta que, quer com um vídeo quer com o outro, a reacção que obtiveram foi muito semelhante: “Tivemos sempre uma reacção de grande perplexidade, não faziam ideia de qual eram os números e que era difícil engravidar."
O ensaio ainda não terminou. Ao fim de três meses a equipa fez um primeiro follow up que lhes permitiu perceber que os casais que viram os vídeos ganharam mais conhecimento e retiveram-no durante esse tempo. Está agora a decorrer um segundo follow up, este depois de um ano de terem contactado com a informação, que termina em Outubro e que pretende avaliar o conhecimento a longo prazo.
A investigadora refere que a educação sexual em Portugal tem estado muito centrada na prevenção da gravidez indesejada. Defende, por isso, que é preciso olhar para educação sexual de uma forma mais lata. Receita também a aplicar no planeamento familiar, que devia incluir um plano reprodutivo, como já fazem outros países. Os passos seguintes do grupo, acrescenta, passam por ver como poderão estabelecer parcerias futuras com o Ministério da Saúde para que a prevenção da fertilidade seja um tema cada vez mais falado.