Monsanto condenada a pagar indemnização milionária por causa de cancro causado por glifosato
Indemnização para homem diagnosticado com cancro depois de usar o herbicida durante anos ascende a 250 milhões de euros.
Um tribunal na Califórnia condenou o gigante agrícola Monsanto a indemnizar um homem que culpa o seu contacto durante anos com glifosato pelo cancro terminal que desenvolveu. É a primeira decisão judicial de um caso que envolve os efeitos do herbicida para a saúde humana.
Em reacção à sentença, a Bayer, que em Junho completou a aquisição da Monsanto, negou que o produto em questão seja cancerígeno e garantiu que vai recorrer da decisão.
O júri de um tribunal de São Francisco decidiu que a empresa deve indemnizar Dewayne Johnson, um ex-jardineiro que em 2014 foi diagnosticado com um linfoma, em 289 milhões de dólares (251 milhões de euros). Foi o contacto com Roundup, um herbicida comercializado pela Monsanto e que é um dos mais usados em todo o mundo, que provocou o desenvolvimento do cancro, agora em estado terminal, argumentou Johnson.
A decisão de condenar a Monsanto abre um precedente forte para as mais de cinco mil queixas deste género nos EUA, de acordo com a BBC.
A empresa vai recorrer da decisão, mesmo correndo o risco de ter de pagar juros sobre uma futura indemnização. “Vamos recorrer e continuar a defender vigorosamente este produto, que tem uma história de 40 anos de uso seguro e continua a ser um instrumento vital, eficaz e seguro para agricultores e outros”, disse o vice-presidente da Monsanto, Scott Partridge, citado pela CNN.
O caso de Johnson foi julgado de forma mais célere porque os médicos dizem que o antigo jardineiro de 46 anos estava em risco de morrer antes de haver um veredicto. Johnson apresenta lesões que cobrem 80% do corpo, diz a CNN, e em certos dias mal consegue falar.
Glifosato, o herbicida mais usado em Portugal
O estatuto do glifosato, utilizado sobretudo para matar ervas daninhas, tem sido objecto de muita controvérsia. Em 2015, a Organização Mundial de Saúde concluiu que o glifosato — um componente químico criado em 1974 pela Monsanto, mas comercializado por centenas de empresas — tem um potencial carcinogénico para os seres humanos.
No entanto, as agências de protecção ambiental dos EUA e da União Europeia foram mais cautelosas nas suas apreciações e não recomendaram o abandono do glifosato. Em Novembro, o Conselho Europeu deu luz-verde à renovação da licença de utilização do produto por mais cinco anos, embora alguns países como a França tenham planos para abolir a utilização do glifosato nos próximos anos. Portugal, onde o glifosato é também o herbicida mais usado, absteve-se.
A linha de defesa das empresas que comercializam o glifosato é a existência de muitos mais estudos que apontam para a ausência de perigo da sua utilização do que o contrário. A própria investigação da OMS diz que o composto é "provavelmente" carcinogénico.
O advogado de Johnson, Timothy Litzenburg, disse, porém, que no caso em análise o que interessou ao júri foi a interacção entre o glifosato e outros componentes do Roundup, que produziram um "efeito sinergético" com potencial cancerígeno.