Novas construções na Soltróia levam ao abate de pinheiros junto à praia
O plano de urbanização de Tróia previa em 1963 a ocupação de um território com 1500 hectares por 52 mil habitantes. Em 2013 foi projectada a ocupação de mil hectares com 15 mil camas.
Enormes máquinas de rasto estão a proceder, há cerca de uma semana, ao derrube e corte de um número que não foi possível quantificar de pinheiros-bravos de grande envergadura junto à praia de Soltróia e a cerca de uma centena de metros da linha de água. O PÚBLICO recebeu a indicação que as árvores integram a zona de protecção do cordão dunar e que a área estaria a ser libertada para a construção de novos fogos.
Este procedimento teve um antecedente em 2008, quando foram abatidas várias árvores com mesmo objectivo: alargar a área de construção. Na altura, o Ministério do Ambiente tomou conhecimento da situação através da comunicação social, decretou o embargo dos trabalhos, mas a decisão não foi acatada, nem pelos donos da obra nem pela Câmara de Grândola. Só uma decisão judicial é que permitiu travar o abate das árvores.
Agora, confrontado pelo PÚBLICO sobre este novo abate, o presidente da câmara de Grândola, António Figueira Mendes, garantiu que não foi autorizado “o abate de pinheiros na praia de Soltróia”. O desconhecimento que diz ter da situação não lhe permitem adiantar se a autarquia licenciou ou não a construção de novas habitações no espaço ocupado pelas árvores abatidas. Os serviços de fiscalização do município vão deslocar-se ao local para verificar “se existe alguma situação de incumprimento”, assumiu o autarca.
A urbanização turística e residencial de Soltróia foi projectada em 1963 mas só foi instalada entre 1985 e 1991 por iniciativa da família árabe Al-Khedery. O plano de criar uma cidade exclusivamente dedicada ao lazer na península de Tróia foi da iniciativa da Sociedade Imobiliária de Urbanização e Turismo, SARL, (Soltróia), empresa liderada por Walter Moreira Salles, influente banqueiro brasileiro e, à altura, ministro da Fazenda do governo de João Goulart (1961-1964).
Prevendo-se já naquele ano a afluência ao sul que a construção da ponte sobre o Tejo iria provocar, a Soltróia comprou, em 1962, a Quinta da Herdade à Sociedade Agrícola de Tróia com vista ao “seu aproveitamento como zona de grande turismo nacional e internacional”.
Francisco Keil do Amaral foi o arquitecto escolhido para desenhar a urbanização da península pela experiência que colheu na elaboração das Bases para o Desenvolvimento Turístico do Algarve, em 1962.
O documento que dava suporte ao projecto Soltróia referia que se tratava de “planear, de raiz e integralmente, a ocupação” de um vasto território “onde, praticamente, nada existe” com vista à sua exploração turística. Feito o reconhecimento do território a intervir, verificou-se que se estava perante uma área superior a 1500 hectares, onde se previa instalar 52 mil habitantes em vilas e cidades, as primeiras com uma população de 3000 a 4000 habitantes cada e as últimas com 7000 habitantes.
O plano de urbanização da península de Tróia, aprovado pela câmara de Grândola em 2011, admite que possam vir a existir mais cerca de 15 mil camas num território com cerca de mil hectares com projectos dinamizados pela Sonae Capital,
O plano de pormenor de Soltróia adianta que existem 434 lotes na sua maioria de uso residencial. As informações mais recentes referem que nesta urbanização estão construídos 1457 fogos.
O PÚBLICO tentou obter uma reacção da Soltróia mas até agora não foi possível.