Ex-chefe de campanha de Trump é o primeiro que Mueller leva a julgamento
Paul Manafort começa a ser julgado nesta terça-feira. Está acusado de 18 crimes que não estão directamente relacionados com o seu trabalho na campanha de 2016 e com a alegada interferência da Rússia nas eleições.
Paul Manafort, antigo chefe de campanha do Presidente norte-americano, Donald Trump, é a primeira pessoa que a equipa liderada pelo procurador especial Robert Mueller, que investiga a interferência da Rússia nas eleições americanas de 2016, leva ao banco dos réus, nesta terça-feira, para responder por 18 crimes financeiros. Porém, a possível ingerência russa e conluio com a campanha republicana é uma carta fora do baralho neste julgamento.
Manafort, de 69 anos, vai ser colocado novamente perante um juiz em Setembro, em Washington, noutro julgamento. Responderá por mais acusações relacionadas com o seu trabalho na Ucrânia, tal como o que começa nesta terça-feira, e então sim, as suspeitas de interferência russa nas eleições poderão vir ao de cima. No julgamento de Washington, está acusado de conspiração contra os Estados Unidos, conspiração para lavar dinheiro, obstrução à justiça, omissão de registo como "agente estrangeiro" ou declarações "falsas e enganadoras".
Apesar de o processo de Manafort ter um claro interesse político, visto ter sido desencadeado pela investigação de Mueller sobre a interferência de Moscovo nas eleições de 2016 e sobre o possível conluio com a campanha republicana, o julgamento que se inicia nesta terça-feira não vai incluir este caso. Aliás, segundo noticiou a Bloomberg, o juiz responsável pelo processo, T.S. Ellis III, avisou os advogados e os jurados que a política está completamente fora do julgamento.
Numa audiência em Maio, o juiz lançou até uma crítica aos procuradores de Mueller responsáveis pela acusação: “Vocês não estão realmente interessados na fraude bancária de Manafort”, disse, citado pela comunicação social americana. “O que vos realmente interessa é que informação poderá dar Manafort que se irá reflectir em Trump ou levar à sua acusação ou destituição”.
O dinheiro ucraniano
Manafort entregou-se às autoridades em Outubro juntamente com o seu antigo sócio, Rick Gates, que foi subdirector da campanha de Trump. As acusações contra Manafort remontam ao trabalho que realizou na Ucrânia, a partir de 2005, junto do Governo e oligarcas ucranianos para ajudar o político pró-Rússia Viktor Ianukovich, que acabaria por ser eleito Presidente - para ser deposto em 2014, após uma revolta popular.
Em Junho, e já depois de ter ficado decidido que Manafort poderia esperar pelo julgamento em prisão domiciliária mediante o pagamento de uma fiança de dez milhões de dólares, uma juíza decidiu revogar essa decisão.
A acusação diz agora que Manafort terá ocultado vários milhões que recebeu no trabalho na Ucrânia ao fisco americano. Depois de Ianukovich ter sido obrigado a fugir para a Rússia na sequência da revolta popular de 2014, o dinheiro deixou de chegar. A partir deste momento, de acordo com o que concluiu a equipa de Mueller, Manafort começou a defraudar os bancos ao esconder as suas dívidas para conseguir avultados empréstimos para manter o altíssimo nível de vida (a compra de mansões, carros ou jóias no valor de milhões, sem declarações de rendimentos equivalentes a este estilo de vida, são algumas das provas apresentadas pela acusação).
Desta forma, Manafort enfrenta 18 acusações que envolvem, na sua maioria, fraude bancária e fraude fiscal. Teve também ligações ao português Dias Loureiro, enquanto presidente presidente da Sociedade Lusa de Negócios Novas Tecnologias, no início dos anos 2000, em investimentos ruinosos do grupo SLN, em Porto Rico, financiados pelo BPN, e suspeitos de servirem para pagamentos indevidos.
Nenhum destes crimes está directamente relacionado com o trabalho de Manafort durante as eleições americanas na campanha de Donald Trump.
Reunião da Trump Tower
Manafort esteve presente, em Junho de 2016, ainda antes das eleições, numa reunião com uma advogada russa com ligações ao Kremlin que entrou em contacto com o filho mais velho do Presidente dos EUA, Donald Trump Jr., prometendo informações prejudiciais contra Hillary Clinton. Este encontro, bem como as ligações de Manafort a oligarcas russos próximos do Presidente russo, Vladimir Putin, levantou suspeitas na equipa de Mueller.
Apesar de o caso da possível interferência do Kremlin nas eleições não estar em cima da mesa no julgamento, este poderá dar algumas pistas sobre o caso e ter alguns efeitos políticos. Caso Manafort seja condenado, isso poderá prejudicar a acusação de Trump de que a investigação de Mueller não passa de uma “caça às bruxas” e que não tem qualquer tipo de fundamento. Por outro lado, uma eventual absolvição poderá reforçar este discurso do Presidente.
Durante o fim-de-semana, sem mencionar o julgamento de Manafort, Trump recorreu ao Twitter para garantir que não houve qualquer conluio com Moscovo para influenciar os resultados eleitorais e para voltar a atacar a investigação de Mueller, acusando-o de conflito de interesses, e afirmando que “a caça às bruxas é um golpe ilegal”.
Segundo a CNN, a acusação vai chamar a depor 35 testemunhas, entre as quais Rick Gates, que deverá ser central neste processo. O antigo sócio de Manafort chegou a acordo com a equipa de Mueller, declarando-se culpado nas acusações de participação numa conspiração para lavar dinheiro e para defraudar o Governo. Como parte do acordo, Gates comprometeu-se a colaborar com a investigação.
Manafort, pelo contrário, recusou-se a chegar a acordo com Mueller, insistindo na sua condição de inocente e arriscando agora passar o resto dos seus dias na prisão, caso seja condenado pelos crimes de que é acusado.