Nos últimos três dias morreram mais de 200 migrantes em busca de asilo
O mais recente relatório das Nações Unidas actualiza o número de vítimas mortais e apela a ajuda urgente de organizações não-governamentais e até de embarcações comerciais.
Um novo relatório divulgado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) dá conta de pelo menos 220 refugiados mortos só na última semana, vítimas de naufrágios na costa da Líbia enquanto tentavam atravessar o mar Mediterrâneo e procurar asilo na Europa.
Actualmente, e de forma oficial, há três navios civis de socorro a operar ao largo da Líbia. Mas é deste país que parte grande parte dos que querem chegar à Europa. Só este ano, a Guarda Costeira da Líbia já fez chegar à costa mais de oito mil refugiados.
Na terça-feira, uma embarcação de madeira com cerca de 100 passageiros acabou por naufragar. Só cinco sobreviveram. Os sobreviventes, resgatados pela Guarda Costeira da Líbia, foram levados para o hospital de Trípoli, onde se encontram a receber tratamento médico. Os cadáveres das vítimas mortais estão a ser recolhidos pelas autoridades no mar, ou nas praias, onde acabam por dar à costa. A alguns quilómetros desse local, também na terça-feira, uma outra embarcação teve o mesmo destino. Das mais de 130 pessoas a bordo do barco de borracha, pelo menos 70 pessoas não sobreviveram.
O número continuou a aumentar na quarta-feira. A partir de Garabulli, uma localidade a 64 quilómetros de Trípoli, as autoridades montaram uma operação de resgate e conseguiram garantir o transporte seguro de alguns migrantes e refugiados — o número não é detalhado no relatório. Ainda assim, o número de vítimas mortais ascende a 50 pessoas.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados diz-se "consternado com o crescente número de refugiados e migrantes que perdem as suas vidas no mar" e pede uma acção internacional urgente, que fortaleça os esforços de resgate. O ACNUR dirige os seus pedidos não só a outras organizações não-governamentais, mas também a embarcações comerciais, espalhadas pelo Mediterrâneo, que possam colaborar nas acções de resgate.
A agência da ONU pede ainda que seja garantido o acesso à protecção em países de asilo, como uma alternativa aos trajectos pela Líbia, de onde partem para tentar atravessar o Mediterrâneo "em busca de protecção e segurança". Tudo isso, insiste o ACNUR, "é crucial para garantir que não há mais vidas perdidas no mar".
"Estas mortes são uma lembrança de que as guerras e pobreza continuam a levar as pessoas a escolher fugas desesperadas, que lhes custam as poupanças de uma vida, a sua dignidade e, em muitos casos, até a própria vida", apontou o alto-comissário da ONU para os Refugiados, Filippo Grandi, na segunda-feira, numa cerimónia de homenagem aos milhares de refugiados que morreram em busca de asilo. Filippo Grandi é o sucessor do antigo primeiro-ministro português António Guterres, actual secretário-geral da ONU. O diplomata chegou ao cargo em 2015, data em que a crise de refugiados atingiu um número superior aos 50 milhões de refugiados causados pela Segunda Guerra Mundial.
"Nunca foi tão urgente resolver a raiz do problema, melhorar as condições na Líbia e nos restantes países ao longo da rota e garantir alternativas seguras", vincou.
No entanto, os números mostram que há cada vez menos organizações não-governamentais empenhadas em resgatar requerentes de asilo. Paralelamente, há governos (como o de Itália), que dificultam o salvamento, confiscando navios e acusando as organizações de apoiarem a imigração ilegal.
Com este novo balanço revelado pela ONU, o número total de mortos na rota do Mediterrâneo— só este ano — ultrapassa as mil vítimas, mas o pico pode ainda nem ter chegado. Com a chegada do Verão é expectável que aumente o número de migrantes e refugiados que tentam atravessar o Mediterrâneo.