NFL vai multar jogadores que se ajoelhem durante o hino
Proprietários das equipas da liga de futebol americano alteram regulamento para travar protestos contra a violência policial contra afro-americanos.
Os proprietários das principais equipas da NFL, liga desportiva profissional de futebol americano, aprovaram esta quarta-feira um novo regulamento que obriga os atletas a permanecerem de pé enquanto soa o hino norte-americano, numa tentativa de travar os protestos contra a violência policial contra afro-americanos que marcaram as últimas temporadas, com vários jogadores a ajoelharem-se ao ouvirem a Star-Spangled Banner. As equipas com atletas incumpridores ficarão sujeitas ao pagamento de multas. Em alternativa, o regulamento prevê que as equipas possam optar por permanecer no balneário durante o hino.
A decisão foi anunciada esta quarta-feira, na reunião de Primavera da Liga, em Atlanta, pela voz de Roger Goodell, comissário da NFL. Das declarações de Goodell entende-se que a decisão foi tomada exclusivamente pelos proprietários das equipas e que os jogadores não tiveram voz activa na discussão. Goodell sublinhou que os eventuais castigos recairão sobre as equipas e não sobre os jogadores a título individual, escreve a ABC News.
O novo regulamento visa travar actos protesto como ajoelhar-se ou sentar-se durante o hino, mas não é claro se será permitido erguer um punho cerrado, um histórico gesto de protesto contra a repressão racial por parte das forças da autoridade. Malcolm Jenkins e Michael Bennett, jogadores dos Philadelphia Eagles e dos Seattle Seahawks, repectivamente, recorreram a este acto de protesto por diversas vezes durante a temporada.
A decisão surge quase duas épocas depois de Colin Kaepernick, na altura quarterback dos San Francisco 49ers, se ter ajoelhado durante o hino nacional pela primeira vez. O gesto, como esclareceu mais tarde em declarações à imprensa, era um protesto contra a violência policial e a desigualdade racial perante o sistema judicial norte-americano: “Não me vou levantar para mostrar orgulho por uma bandeira de um país que oprime negros e pessoas de cor” disse Kaepernick, em 2016.
No mesmo ano, os 49ers apoiaram o seu jogador: “O hino nacional é e sempre será uma parte especial da preparação dos jogos. É uma oportunidade para honrar o nosso país e reflectir nas nossas grandes liberdades enquanto seus cidadãos. Ao respeitar princípios americanos como orientação religiosa e liberdade de expressão, reconhecemos o direito de alguém escolher participar, ou não, na nossa celebração do hino nacional”, informou a equipa na altura, em comunicado.
No entanto, o apoio da equipa não se traduziu na continuidade do vínculo contratual entre o jogador e a formação, e Kaepernick está sem jogar na NFL desde 2016, no que tem sido visto pelo atleta e pelos seus apoiantes como uma represália pelo seu activismo. O jogador acusa os proprietários das equipas da NFL de uma acção concertada para o manter afastado do futebol americano.
O gesto de Kaepernick foi imitado ao longo de 2017 por vários jogadores de outras equipas da Liga. O protesto não foi ignorado pela Casa Branca – especialmente pelo seu principal inquilino, que se lhe opôs com veemência. Donald Trump liderou, de resto, a perseguição mediática a Kaepernick e outros atletas que se manifestaram da mesma forma, chamando-lhes “filhos da mãe”: “Não adoravam que um desses donos de equipas da NFL, ao ver que algum jogador falta ao respeito à nossa bandeira, dissesse: ‘Tirem esse filho da mãe do campo imediatamente. Está despedido!’”, disse em 2017, durante um comício no estado do Alabama.
Esta segunda-feira, Trump voltou à carga ao elogiar a NASCAR, um campeonato de automobilismo, pelo regulamento que obriga os seus condutores a erguerem-se quando o hino nacional é entoado antes das corridas, no que foi entendido como um recado para os patrões da NFL.