Depois da Coreia do Norte, do Irão e da Venezuela, Trump atirou-se ao desporto

Presidente dos EUA entrou em “guerra” com a NBA e a NFL e os jogadores reagiram com críticas e protestos.

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Jogadores da NFL em protesto no estádio de Wembley, em Londres Reuters/Steven Flynn

Não existem dias enfadonhos no quotidiano de Donald Trump desde que chegou à Casa Branca e a diplomacia não é, definitivamente, o seu forte. Na terça-feira, num discurso inflamado na ONU, o presidente dos EUA ameaçou “destruir totalmente” a Coreia do Norte, ao mesmo tempo que prometeu rasgar o acordo nuclear com o Irão e reforçar as sanções económicas à Venezuela. Nesta sexta-feira iniciou uma “guerra” com as Ligas norte-americanas de basquetebol (NBA) e futebol (NFL), duas das mais populares a nível nacional e internacional. Os jogadores reagiram com uma série de protestos, que subiram de tom este domingo, com críticas ao líder da Sala Oval e chamando a atenção para os problemas sociais e raciais do país.

A bola de neve começou a ganhar dimensão na véspera do fim-de-semana, quando Trump chamou, indirectamente, “filho da puta” a um jogador de futebol americano. Na mira tinha Colin Kaepernick que, desde o ano passado, antes do início de cada partida, se ajoelhava ao som do hino nacional, para denunciar a violência policial contra cidadãos afro-americanos e a injustiça racial. Uma forma de protesto pacífica que não beliscou a sensibilidade do presidente. Antes pelo contrário.

“Não iriam adorar que um desses donos de equipas da NFL, ao ver que algum jogador falta ao respeito à nossa bandeira, dissesse: ‘Tirem esse filho da puta do campo imediatamente. Está despedido!’”, questionou, durante um comício no estado do Alabama perante uma plateia de apoiantes entusiastas.

E, na eventualidade das suas palavras em Alabama não terem a repercussão desejada, voltou à carga durante o fim-de-semana, agora através da sua mais emblemática “arma” de comunicação: a rede social Twitter. O mais recente post surgiu já este domingo, com Trump a sugerir aos adeptos que deixassem de ir aos estádios ou os abandonassem quando assistissem a este tipo de protestos. Minutos depois, num outro tweet, não resistiu a nova provocação, acusando os profissionais do futebol americano de estarem a arruinar o jogo, por não serem suficientemente duros e tornarem as partidas “chatas”.

Os jogadores da NFL não ficaram intimidados e responderam este domingo com a mesma forma de protesto protagonizada por Colin Kaepernick. Uma manifestação de união que extravasou as fronteiras americanas. Antes do início de um encontro em Londres, os basquetebolistas dos Baltimore Ravens e dos Jacksonville Jaguars foram os primeiros a ajoelhar-se durante o hino dos EUA.

Também o comissário da NFL Roger Goodell contestou as palavras de Trump, através de um comunicado oficial, exigindo respeito e salientando a grande solidariedade demonstrada pelos atletas em prol das suas comunidades, nomeadamente através de donativos generosos para as vítimas dos desastres naturais do último mês. O presidente não o deixou sem resposta, acusando-o de desrespeitar o país ao defender os jogadores que protestaram durante o hino.

Mas não foi apenas a NFL a sofrer as investidas presidenciais por estes dias. As baterias foram também apontadas à NBA. No sábado, Trump resolveu retirar o convite para uma visita à Casa Branca a Stephen Curry, a estrela dos Golden State Warriors, que se sagraram, em Julho deste ano, bicampeões da Liga profissional de basquetebol.

O jogador tinha contestado a oportunidade desta visita à residência presidencial, que é tradicionalmente concedida às equipas vencedoras das respectivas competições desportivas. Um atrevimento que Trump não deixou passar em claro. “Visitar a Casa Branca é considerado uma grande honra para uma equipa campeã. Stephen Curry está a duvidar e por isso retiro-lhe o convite”, atirou através de mais uma mensagem na sua conta no Twitter.

De pronto, grandes estrelas da NBA saíram em defesa do seu colega, entre as quais o “rei” LeBron James, que foi um dos mais corrosivos: “Ir à Casa Branca era uma honra até que tu chegaste!”, escreveu no Twitter. Ainda no sábado, os próprios Warriors, em comunicado, aceitaram o “desconvite” presidencial, mas mantiveram a visita a Washington, que irão tornar numa celebração da “igualdade, diversidade e inclusão”: “Não há nada mais americano que o direito de livre expressão em assuntos importantes. Estamos decepcionados por não ter a oportunidade de compartilhar opiniões ou ter um diálogo aberto.”

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