Trump é fascista?

Afinal, se tivermos de caracterizar as atitudes políticas de Trump como o podemos definir ideologicamente? Há quem diga que é fascista. Mas poderá a democracia mais antiga do mundo em funcionamento ter permitido eleger um fascista?

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Carlos Barria/Reuters

Mesmo que não nos interesse muito política é impossível ficar indiferente ao novo presidente dos EUA. Trump está a forçar que se fale de política, dos políticos, dos regimes e das ideologias novamente. Pensando-se que a história iria “terminar” com o contínuo aprofundar da democracia e dos ideais humanistas assentes no conhecimento e respeito pelo individualismo “positivo”, numa sociedade tolerante e libertária de consumo hedonista que se tinham mundializado, surge então este novo facto. Trump parece querer negar essa tendência, mas será que podemos mesmo concluir isso?

Afinal, se tivermos de caracterizar as atitudes políticas de Trump como o podemos definir ideologicamente? Há quem diga que é fascista. Mas poderá a democracia mais antiga do mundo em funcionamento ter permitido eleger um fascista? Proponho recorrer a William Ebenstein, professor de ciências políticas, que definiu, nos anos 40 do século XX, em alguns tópicos, as características do fascismo. São elas, nas palavras de António José Fernandes: falta de confiança na razão; negação da igualdade humana fundamental; código de conduta baseado em mentiras e violência; Governo da elite; totalitarismo; racismo e imperialismo; oposição às leis e regras internacionais.

Foi com Trump que se reforçou o conceito de “pós-verdade” e dos “outros factos”, que nada contribuem para a valorização da razão. Trump recorreu muitas vezes a termos maniqueístas do “nós” e dos “outros”, dos bons e dos maus. São inúmeras as referências a uma justiça punitiva no seu discurso, tendo aprovado o uso de tortura. Também se comprovou que muitas alegações de Trump são baseadas em mentiras, só não podemos saber se intencionalmente ou por real desconhecimento. Por outro lado, os apoiantes de Trump defendem o uso e acesso a armas de fogo incutindo um estado potencial de violência. Sobre o elitismo, Trump é multimilionário numa sociedade capitalista onde se valorizam muito os bens materiais. O muro que Trump quer construir é uma solução não lhe diminui em nada associações à xenofobia e ao racismo, quando acompanhado de declarações que dividem a sociedade em legais e ilegais, em raças, etnias, tal como em credos religiosos. A vontade em rasgar acordos internacionais e de reduzir o peso na participação em instituições como a NATO também indica problemas de convivência internacional.

Tendo já arriscado muito na análise, pois pode ser motivada pelas minhas preferências políticas e valores pessoais, penso que William Ebenstein nos dá indicações para ensaiar um exercício interessante. O que aqui fiz era um mero exemplo demonstrativo. Todos podemos tentar encontrar exemplos no comportamento e atitudes políticas de Trump e de outros para validar ou refutar associações a novos tipos de fascismo. Acima de tudo isto parece-me interessante porque pode contribuir para contrariar o desinteresse geral por questões políticas de fundo. Como todos os assuntos associados a Trump têm sido mediáticos temos, com certeza, conteúdos mais do que suficientes para realizar este e outros exercícios.

Deixo-vos então o desafio para pensarem e responderem vocês mesmos: Trump é fascista?

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