Sensi Guitar: esta guitarra é única e personalizável
São dez os projectos portugueses que competem pelos 25 mil euros do Prémio Nacional das Indústrias Criativas. João Neves criou um sistema que acciona sons exteriores a guitarras eléctricas, com opções de personalização para músicos e performance
O vosso projecto é um dos 10 finalistas da edição 2016 do PNIC. Como o descreveriam a quem nunca ouviu falar de vocês?
A Sensi Guitar é uma guitarra eléctrica com algumas características especiais, mais concretamente um sistema de controlos embutido que permite interagir com elementos externos à guitarra e que afectam o seu som (como pedais e processadores de efeitos). Tinha vontade de ter a minha própria guitarra construída a pensar nas minhas necessidades enquanto músico. O objectivo era poder usar o processamento do som de uma guitarra de forma criativa — um pouco à semelhança do que se vê mais no mundo dos sintetizadores —, mas sem perder a mobilidade tradicional de um instrumento como este. Posteriormente, muito por falta de meios para aproveitar os recursos possibilitados por esta guitarra e para poder tirar mais partido tanto dela como de outros equipamentos, programei um “software”. A ideia era usá-lo como ponto de partida para criar os sistemas para os meus projectos musicais. Esse “software” pode fazer o processamento de várias fontes sonoras ligadas ao sistema, assim como guardar pré-definições do roteamento tanto dos sinais áudio pelos módulos como dos controlos, o que pode ser alterado de música para música e entre diferentes secções desta.
A ideia de negócio acabou por aparecer ao longo de todo este processo quando fui contactando com músicos e percebendo que também eles gostavam de ter os seus sistemas, instrumentos e/ou interfaces pensados e construídos tendo em conta as suas necessidades. Apenas não tinham os meios para o fazer, nem havia oferta. A ideia passa agora por oferecer exactamente isso: sistemas personalizados para músicos e performance musical.
Em que é que a vossa empresa difere de outros projectos semelhantes?
Existem várias empresas que constroem controladores e interfaces que permitem controlar elementos externos. Existem outros que, das mais variadas formas, encaixam em alguns tipos de instrumentos e existem até, por exemplo, guitarras com o mesmo tipo de sistema de controlos embutidos. Mas, maioritariamente, são produtos “standard” e não estão abertos à criação pensada para as necessidades dos músicos e dos seus espectáculos. Há também empresas que prestam um serviço de construção e optimização de sistemas de processamento e que vendem “softwares” capazes de fazer processamento dos mais variados instrumentos, mas são poucas as que oferecem soluções de rentabilização máxima de todo o equipamento, ou que estão abertas a aliar “software” a “hardware”, para além de não potencializarem a comunicação entre os vários elementos numa performance.
O prémio para o vencedor desta edição são 25 mil euros. Caso vençam, como contam investir o dinheiro?
Caso vençamos, o prémio vai ser investido em algumas ferramentas necessárias para mais facilmente poder construir sistemas (tanto parte de “software”, como interfaces ou instrumentos), em equipamentos necessários para estes e em estudo e investigação. Mas, acima de tudo, e tendo em conta a fase em que o projecto está, será investido na divulgação (gravação de vídeos, participação em feiras internacionais, organização de eventos de divulgação, etc.) e na estruturação da equipa.
O que faz falta às indústrias criativas portuguesas?
Faz falta que estas acreditem mais em si e no seu trabalho. Em Portugal temos das pessoas mais criativas do mundo, que se inventam e reinventam com poucos ou nenhuns meios, acabando a fazer coisas extraordinárias vindas quase do nada. Somos assim há muitos anos, descobrimos o mundo graças a isso e é por isso que usamos tanto a expressão "desenrascar". Faz-nos falta não ficarmos presos ao facto de acharmos que ainda não está perfeito. Para além disso faz falta, à sociedade em geral, olhar um pouco mais para o que se faz cá dentro e não ficar apenas a achar que o que vem de fora, ou o que é aplaudido lá fora, é que tem realmente valor.
Se o vosso projecto fosse a uma entrevista de emprego e lhe perguntassem onde vai estar em 2020, o que responderiam?
Em 2020, este projecto estará a ser aplicado das mais variadas formas em espectáculos nos maiores palcos mundiais.