Estas gomas saudáveis são portuguesas e premiadas
Nuno Santos criou uma empresa que se dedica à criação de gomas saudáveis — um conceito que também pode ser usado na indústria farmacêutica. Recentemente, a Doctor Gummy venceu um prémio de inovação em saúde, na Dinamarca
Açúcar, glúten, lactose, corantes, aromatizantes e conservantes artificiais. Estes ingredientes são presença comum na composição das muitas embalagens de gomas à venda em supermercados ou lojas de guloseimas — mas não as da Doctor Gummy. Nuno Santos, o fundador da empresa premiada internacionalmente, dedica-se a criar gomas aromatizadas e coloridas com fruta. São gomas, são saudáveis e até ao final do ano devem estar à venda em grandes superfícies por todo o país.
Rebuçados, chupa-chupas e gomas são produzidos de forma semelhante à das guloseimas tradicionais. O que as distingue é o lote de ingredientes utilizados, sublinha Nuno, 29 anos, que aponta também a percentagem de fruta como outro ponto diferenciador. “As marcas tradicionais usam, geralmente, entre 1 a 3% de fruta. Nós usamos 20%”, revela. “Como não queremos usar corantes artificiais, optamos por legumes e vegetais”, continua o jovem empresário. Cenoura, espinafres e abóbora são alguns dos vegetais que dão cor aos doces da Doctor Gummy. Já no caso do chocolate, o leite é substituído por farinha de soja e o açúcar fica de fora da receita.
Desde 2008 que a ideia da Doctor Gummy ocupa o tempo de Nuno, mas só em 2014 é que foi possível concretizá-la, após trabalhar com laboratórios e universidades europeus para testar alternativas a açúcares e outros conservantes. Duas patentes nacionais e uma internacional foram registadas e a empresa dispõe de um conselho de trabalho com vários comités. No início de 2015, o projecto esteve presente na versão portuguesa do programa de televisão “Shark Tank”, no qual conseguiu o apoio financeiro de três investidores. Recentemente, na Dinamarca, a Doctor Gummy venceu o prémio “Health Innovation”, no âmbito do “Creative Business Cup”, e ficou em segundo lugar no Prémio Nacional Jovem Empreendedora da ANJE 2015.
O conceito da Doctor Gummy começou por ser aplicado à indústria farmacêutica, antes ainda de a empresa se voltar para a distribuição alimentar. “Nenhuma criança gosta de medicamentos, mas todas adoram guloseimas”, continua o engenheiro químico natural de Aveiro. Adicionar às gomas “o princípio activo dos medicamentos” e usá-las “como excipiente (corpo do medicamento onde está inserido o princípio activo)” facilita a administração dos mesmos.
“Ao criar uma linha de produção de medicamentos sob a forma de ‘guloseimas’ de sabor adocicado, a ideia une o útil ao agradável”, resume Nuno. “É uma maneira mais fácil de colaborar com a saúde.” Os dados que apresenta revelam a importância de uma alteração da composição dos fármacos: “grande parte dos medicamentos pediátricos contém uma excessiva quantidade de açúcar, alguns com taxas superiores a 80%, contribuindo para a geração de cáries em mais de 50% das crianças”. O excesso de peso e a diabetes são outras das possíveis consequências. “Não seria de esperar que um medicamento pudesse fazer tão mal à saúde”, desabafa.
Lucros investidos em projectos sociais
Algumas marcas já presentes no mercado, explica Nuno, “foram tendo algumas preocupações mas continuam a ser ineficientes”. Não têm glúten mas têm açúcar, não têm lactose mas têm glúten, enumera. “Até mesmo as guloseimas que não têm açúcar usam adoçantes sintéticos que também prejudicam a saúde”, exemplifica.
Parte dos lucros da Doctor Gummy será aplicada “no apoio a instituições e projectos do sector social, em áreas como saúde, educação, empreendedorismo, inovação e sustentabilidade”. O selo “Vitamina S”, que os produtos desta empresa apresentam, comprova a certificação da empresa em solidariedade social, distinguindo-a de outras entidades. Instalada na ISI — Incubadora Social Informa, um projecto da Associação do Monte Pedral, no Porto, a Doctor Gummy recorre a empresas na Alemanha e na Suíça para a produção das gomas. “Por falta de capacidade produtiva nacional”, garante Nuno, que espera ver gomas e rebuçados serem concebidos nos Açores.
Além de cadeias de supermercados nacionais, estas guloseimas vão estar, também, em 131 países. Juntamente com as gomas saudáveis, Nuno é ainda um dos promotores do projecto Spranger (auscultadores "inteligentes"), um dos dez finalistas da edição 2015 do Prémio Nacional das Indústrias Criativas (PNIC). A Miss Can, vencedora do PNIC, ganhou o primeiro prémio na categoria “Arla Food Innovation Challenge” do concurso dinamarquês.
Nuno acredita que pode conseguir “inspirar outras pessoas a fazerem mais e melhor”. Para breve está a publicação de um livro que é uma espécie de “manual de apoio e incentivo ao empreendedorismo e empreendedorismo social”, com perfil e informações sobre casos nacionais, conselhos práticos inspirados nos negócios que conseguiu criar e fazer crescer.