O nosso hino nacional fala-nos do “Nobre Povo”. Há quem associe esta expressão a muita coisa. Eu prefiro associá-la a um povo que, mesmo em períodos de conquista ultramarina, acabou sempre por moldar a sua cultura aos locais do mundo onde estava e por importar muitos costumes e tradições desses locais para a sua própria cultura.
Para mim, um povo nobre é um povo que está aberto a novas culturas, a uma nova gastronomia, a nova música, a novas formas de estar e de sentir o mundo. Um povo nobre não se fecha numa bolha artificial.
Nas últimas duas semanas tem sido impossível andar pelas redes sociais sem ver conteúdo racista, xenófobo e de uma ignorância gritante, mesmo da parte de pessoas que julgávamos terem outro tipo de discernimento. A maioria das pessoas partilha coisas destas provavelmente por ainda estar muito habituada a acreditar em tudo o que se vê nas notícias, um paradigma que a Internet destruiu (temos que aprender a viver com isso) visto que na web há muita propaganda de extrema direita (muita, mesmo!) criada para fazer a opinião pública detestar estrangeiros, migrantes e refugiados.
Temos que tentar entender o contexto de todas as situações e só depois julgar se aqueles refugiados em concreto estão a agir de forma errada ou não e mesmo que estejam a agir de forma errada, devemos evitar generalizações porque em todos os grupos há gente boa e gente má.
No meio de tanta coisa má, há algumas coisas fantásticas. Um grupo de portugueses criou um movimento chamado “Aylan Kurdi Caravan” que tem por objectivo ajudar os refugiados que estão a chegar à Hungria levando já neste fim-de-semana àquele país roupa, comida, brinquedos, produtos de higiene pessoal e vários bens de primeira necessidade. Ontem, em conversa com o João Vasconcelos, um dos organizadores da iniciativa, ele dizia que neste momento o movimento já tem mais de 30 empresas e mais de 100 voluntários a apoiar.
No Google Maps podem ver os locais de recolha na vossa cidade. Na cidade onde vivo, Leiria, há dois locais de recolha: sede da Preguiça e sede da AFA/SPEAK. Caso na vossa cidade ainda não haja um, entrem em contacto com a organização e voluntariem-se para criar um.
Se esta iniciativa merece o nosso aplauso, a adesão por parte dos portugueses merece a nossa vénia. Em menos de 48 horas, houve milhares de partilhas nas redes sociais, dezenas de pessoas a disponibilizarem as suas casas e garagens, empresas a disponibilizarem carrinhas e camiões para a caravana. Uma corrente de gente boa a tentar fazer a diferença e ter impacto positivo na vida de gente que nunca viram e que estão a milhares de quilómetros.
São iniciativas como esta e, principalmente, a quantidade de apoio que tem tido que nos fazem respirar de alívio: afinal a troika não nos privatizou o coração, afinal não passámos a ver tudo por uma folha de excel, afinal ainda somos um Nobre Povo e uma Nação Valente. Obrigado a todos.