Mesmo quando agosto está para terminar, em Leiria realiza-se, em pleno castelo da cidade, o maior festival gótico de Portugal e um dos mais vibrantes da Europa, o Entremuralhas. O magnífico e altaneiro Castelo de Leiria, que domina totalmente a paisagem da cidade, aliado a mais de 700 pessoas todas vestidas de preto impressiona qualquer pessoa. O cenário é místico: a densa vegetação no interior do castelo; uma névoa que não se sabe bem se é nevoeiro, se é fumo dos palcos, se são os dois; as roupas extravagantes e a maquilhagem dos participantes; a cena musical industrial, post-punk e gótica; concertos dentro da Igreja da Pena (local deslumbrante no interior do castelo).
As pedras do castelo, que durante muitos anos, certamente testemunharam muita coisa, veem agora novamente amor, guerra, paz, melancolia e inquietude de espírito, só que tudo de forma interior. De todo o lado do mundo vêm pessoas para assistir a este festival, o que é realmente impressionante visto decorrer numa cidade (ainda) sem um aeroporto nas redondezas.
O normal em Portugal, infelizmente, é as instituições serem bastante fechadas a ideias revolucionárias que mudem paradigmas mas Leiria está de parabéns. Pela leitura que faço, a população leiriense acolhe muito bem a comunidade gótica (numa atitude coletiva daquelas que orgulham todos os que ainda acreditam no civismo e na bondade humana) e o Município cede o maior emblema da cidade, o seu castelo, para este grande acontecimento anual.
Embora o Entremuralhas tenha sido criado apenas em 2010, aquilo que se sente em Leiria é que o festival já existe há muitos anos. Já se criou na mente das pessoas a ideia de que no final de agosto há um fim de semana em que o preto é o dress code oficial da cidade. A criatividade dark ganha asas e Leiria parece passar a ser só Rainhas góticas e malta que parece ter saído de um clip do Marilyn Manson ou do “Senhor dos Anéis”. Durante um fim-de-semana, o Entremuralhas transforma Leiria numa espécie de Gothic-Con Portuguesa.
A FADE IN, associação que criou o festival, está a conseguir mudar as mentalidades de Leiria sobre o que é gostar de coisas não mainstream e respeitar as diferenças de orientação individual, seja ela de que tipo for. E isto é de uma importância enorme que se pode repercutir noutros assuntos determinantes para a nossa evolução como povo.
