Acordei outra vez assim.
Apetece-me fazer o contrário do que é esperado de mim. Seguir por outro caminho onde não há trilho e me leve a sítios onde nunca estive. Porque não defender os culpados, para os compreender? Porque não questionar os inocentes, para saborear a delicadeza dessa diferença?
Como é que evoluímos a ser normais, alguém me explica?
Não explica, porque não há como. A normalidade é confortável e muitas vezes útil, mas raramente cria as condições certas para a evolução. É preciso sair dessa parábola, inspirar e fazer diferente, arriscando uns arranhões e muitos sustos. Porque sem sustos não sentimos essa adrenalina que nos faz explodir de ideias e quereres, de vontades e sonhos.
Apetece-me acordar antes do alarme, para pintar, para inventar. Aprender a escrever poemas, imaginar viagens e viver sobressaltos. Apetece-me saborear momentos e descobrir ideias, antes de parar. Apetece-me parar para pensar. Parar para respirar, antes de pensar. Parar para inspirar antes de respirar. Apetece-me gostar de mim, antes de outros o fazerem. Saber-me ouvir, antes de querer que outros o façam.
Porque sem nos sabermos ouvir dificilmente saberemos escutar e compreender os que nos rodeiam. Há sempre mais do que um ângulo para cada facto, mais do que um lado para cada opinião. Crescer é saber dar a volta imaginária por todos os ângulos de uma história e perceber as razões de cada um, as lógicas de cada qual. Evoluir é tomar decisões melhores, conhecendo esse espectro muito mais largo, esse perímetro muito mais rico.
E sem nos expormos, poderemos descobrir?
Aventuro-me a especular que um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento é o medo. O receio do falhanço, o pavor ao embaraço. E é nesta certeza que protesto: não deveríamos promover esse risco? Não deveríamos arriscar essa exposição, nem que seja para perder o medo de uma vez e evitar os bloqueios que nos limitam a evolução, seja no campo pessoal seja no domínio profissional?
Porque é que não se expõem ao ridículo sem se tornarem ridículos? Porque não testam o embaraço sem se mostrarem levianos, até perder totalmente o medo?
Arrisquem ouvir ideias realmente diferentes até ao fim, antes de as considerarem impossíveis. Espreitem e espiem até ao detalhe como outros estão a criar o seu próprio micromundo, antes de criarem o vosso. Sejam mais bravos do que vos dizem, antes que vos domestiquem de vez. E mostrem aos que vos querem domesticar que a bravura e a coragem de fazer diferente tem resultados que nem estes imaginavam. Façam-nos crescer com vocês, apagando lentamente a palavra "storytelling" dos holofotes e escrevendo outra, bem mais apaixonante: "story creation".